A família pobre e sua galinha
muito amada
Vi ontem uma cena de patética
ternura: uma família pobre caminhava pela Roberto Freire levando consigo alguns
bens modestos, certamente parte relevante do seu limitado patrimônio.
A mãe agarrava-se a um enorme e
amassado pacote, o pai seguia com uma grande bolsa de lona e a filha, menininha
de uns sete anos, abraçava com terna alegria uma galinha. Isso comoveu-me: a
atitude da criança e seu bicho mui amado.
Não tive outra coisa a fazer senão
parar o carro e ficar observando aquela singela procissão, humilde manifestação
de unidade familiar. Acima de tudo pelo fato da presença da galinha, conduzida
pela criança como se fora objeto de extrema relevância ou pessoa muito querida.
Eles foram se afastando, afastando,
afastando, até se tornarem toquinhos de gente perdidos nas lonjuras da grande
avenida.
Não sei qual o destino final da galinha;
certamente a panela no almoço de domingo. Mas a forma como a menina a segurava,
o carinho com que a tratava poderia sugerir que ela teria até mesmo a improvável
chance de virar animal de estimação. Torço pela galinha.
Mas a cena trouxe também à minha
retina a visão de uma típica família brasileira com seus parcos pertences, suas
coisas valiosamente pobres; um nada que vale tão pouco que até uma galinha é
coisa a ser levada em conta. E o pior: tudo resultado de trabalho sofrido e mal
pago per omnia secula seculorum.
Aquela família certamente jamais
saberá que este repórter, velho e feio, a olhou com intensidade e atenção. E
certamente seguirá seus dias vazio abraçando outras galinhas e levando pelas ruas
seus surrões cheios de cacarecos e outras miudezas, tudo tão importante e tão despossuído.
Abraços a esses três desconhecidos.
Abraço ao pai e à mãe. Abraços à menininha. Abraço muito especial à galinha –
que, benza Deus, vire bicho de estimação e escape da panela.
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