quinta-feira, 11 de maio de 2017



Lula, a História e os que serão reduzidos a pó

As observações que farei a respeito do depoimento de Lula voltam-se unicamente para a questão do contexto histórico e a marcha dos acontecimentos, não para o confronto entre aquele e o juiz Sérgio Moro. 

O suposto confronto era do interesse unicamente de um certo segmento social e midiático e visava criar condições para um acirramento de ânimos de consequências que poderiam até mesmo atingir os pilares da nossa frágil democracia. 

A Lava-Jato é uma atitude tático-jurídica que age em dois planos paralelos e intercomplementares: o primeiro diz respeito mesmo ao ato de enfrentamento à corrupção; o restante, enraizado no primeiro, volta-se para a destruição do PT e de Lula como figura icônica.

Como o PT e Lula foram de alguma forma enredados nas engrenagens da Lava-Jato o intento destrutivo torna-se aparentemente viável.
Observemos: as incoerências históricas do PT, expressas em suas alianças desde a primeira eleição de Lula à presidência, permitiram a fragilização do discurso partidário e o tornaram presa fácil.

Isso vale tanto para a ablação do partido quanto para impor ao país o que se está efetivamente impondo: desregulamentar o trabalho e aprisionar a previdência. 

É um propósito e tanto para os que desejam acabar com direitos e apassivar uma organização partidária. 

Por isso tornou-se importante para a Lava-Jato e seus periféricos – TVs, jornais, blogs e movimentos apresentados como populares – esmigalhar o PT e amesquinhar a figura histórica de Lula.
O grande objetivo é eliminar uma figura popular a fim de, mais facilmente, retirar direitos mais e mais. Trata-se da busca de uma hegemonia. 

O esforço é tão maior quanto grande é a expressão de Lula perante a história. Não se lhe pode negar importância e vigor durante o período ditatorial, não se pode esconder sua ação no plano da promoção social.
E se é grande o empenho é porque o adversário é notável. 

Creio que Lula, mesmo com todas as suas contradições, em sua complexa circunstância de ator histórico preso ao destino de um país de tantas e tão graves divagações como a última ditadura, tem sim peso e representatividade que devem ser levadas em conta.

Nada me tira a convicção de que daqui a cem anos haverá trabalhos acadêmicos, livros-reportagem, análises e artigos em revistas de sociologia analisando Lula e tudo o que a sua presença de mundo deflagrou. 

Quanto a seus acusadores, incluindo os jornalistas, o juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava-Jato serão, todos, peças secundárias. Serão mencionados, jamais personagens centrais. 

Em outras palavras: daqui a cem anos Lula será Lula. E, só para citar exemplo, Aécio Neves, que buscou ser sua nêmese, estará reduzido a pó.

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