O direito de ser bandido
A violência no Brasil é sistêmica, complexa e, pela forma como
se apresenta, organizada e enraizada, dificilmente será vencida.
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Vejamos: é
preciso entender que a violência está dentro dos presídios mas mantém firme conexão
com os atos criminosos que se dão fora deles, inter-influenciando-se mutuamente.
Além disso,
as causas históricas do fenômeno criminal permanecem inalteradas secularmente, num
perverso processo de marginalização que leva muitos à prática de delitos como
se aquela fosse forma aceitável de viver.
As causas
históricas manifestam-se nos baixos salários pagos pela iniciativa privada – e no
seu inverso: os segmentos estamentais eternizados em situação privilegiada:
régias remunerações contemplam o judiciário, a alta oficialidade das forças
armadas, políticos profissionais e setores do funcionalismo público.
Junte-se a tal fato a corrupção perpetrada pelo alto
empresariado junto a agentes públicos – agregando-se a isso a sonegação de
impostos – e temos a receita social perfeita e o caldo de cultura exato a
propiciar o encaminhamento do indivíduo socialmente desvalido ao crime.
Com o
Estado aparelhado e tornado meio de vida para os privilegiados todo o dinheiro
que deveria estar ao dispor da sociedade vai parar em poucas contas bancárias. Simplificando:
falta dinheiro para as funções sociais da instituição estatal.
E muitos jovens
que vivem um cotidiano de privações e fome compreendem-se como membros de
alguma forma de sociedade marginal e passam a vivenciá-la. Entendem-se como se
tivessem o “direito” de ser criminosos.
Ou seja:
nas favelas e arrabaldes esse tipo de pensamento passa a ser compartilhado,
torna-se um valor, uma espécie de crença, uma maneira de experienciar a existência
e uma forma de ser no mundo.
Então,
imbuído de tais princípios, o indivíduo passa a cometer atrocidades com grande
desenvoltura e sem qualquer senso de culpa. Torna-se convicto. Mata e agride
com a mesma naturalidade que um trabalhador ergue uma parede ou pega um ônibus
de volta à casa. É o “direito” de ser criminoso.
Entre os criminosos e os privilegiados há um abismo
profundo. As elites não estão dispostas a ceder seus privilégios, os bandidos reagem. E o resultado
é o que temos: presídios explodindo, o terror batendo à sua porta.
O Estado não
tem como garantir ao trabalhador integridade física, bem-estar, sossego,
tranquilidade, saúde, educação, cultura, transporte, dignidade.
Também não
consegue ser eficaz na busca de levar adiante ações repressivo-preventivas para
enfrentar aqueles que estão no caminho do crime, ofendendo os que trabalham.
E chegamos ao atual ponto: uma situação insustentável,
especialmente pelo fato de que os criminosos já vivem seu sentimento de
pertença a um grupo e entendem a sociedade como sua presa legítima.
Caso não
haja uma profunda revisão de valores, caso os dinheiros públicos não venham a
ter devida aplicação. E mantendo-se – como serão mantidos– os privilégios e a corrupção,
a tendência do quadro é de constante agravamento.
O “direito
de ser criminoso” crescerá, e os bandidos, identitários
e armados, continuarão a disseminar a violência e a morte. Recolhidos aos presídios
continuarão a exercitar bestialidade e horror.
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