Cara a cara
com a dor
O grito do olhar daquele que se
perdeu. Delcídio do Amaral. No flagrante de Evaristo Sá para a AFP a prova de
que em jornalismo nem sempre valem as leis, determinações, normas ou regências que
a ordem estético-informativa dita. Ou seja: que a imagem facial deve
identificar por inteiro aquele que é fotografado.
Não: em jornalismo às vezes vale
mais a inesperada, implausível, fantasmagórica, louca ou espantosa visão do que
está interno ao sujeito fotografado. A face falando ao ser vista. A dor tem
cara e essência visíveis.
E o que se vê na foto é exatamente
essa visibilidade. O interior de um homem alquebrado, encolhido, torto. O olhar
diz tudo.
A circunstância – algo sombria,
desconexa, troncha – completa a composição da imagem: a face e sua faceta. A
face – decadente, sofrida, decrépita – revela alguém que busca se esconder no
banco traseiro de um carro como se ali fora a gruta de um acossado.
Um crucifixo de aparência tosca faz
a ilação entre o homem e sua remição. E alude àquele medo tão humano e tão
antigo do Homem: o medo de enfrentar o mundo. E assim o humano busca o divino,
o salvador cósmico e bondoso. Bondoso até com os perpetradores.
A foto é poderosa e precisa. E,
essa sim, vale mais que mil palavras.
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