O plantador de chananas
Emanoel Barreto
Quando ficar bem
velho, o que deverá acontecer daqui a quatro minutos, vou dedicar-me ao cultivo
de flores. Mas são serão flores dessas requintadas, finíssimas, delicadas. Flores
de alto status nos jardins do esmero. Não; as flores que cultivarei serão as
humildes e sarjetas chananas, as tulipas pobres, orquídeas de arrabalde.
Dizem que as
chananas se negam a ser cultivadas, colocadas em vasos, regadas. Negam-se a ser
mimadas com adubos e carinhos preciosos. Sendo assim, meu jardim serão os
terrenos baldios e os esconsos, os bairros onde moram as pessoas em vão, os
chananas sem futuro.
Vou andar na
companhia de um grande cão malhado, que correrá sobre os campos de chananas e
com ele sairei feito um louco. Vamos distribuir essas flores pobrinhas e quem
quiser aceitar.
Depois, depois vou
plantar chananas em todos os cantos. E quando todo o mundo estiver coberto delas
sinceramente não sei o que acontecerá. Mas de uma coisa estou certo: o mundo
estará coberto de chananas. Pelo menos isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário