Quinta-feira
passada fiz meu teste anual de esteira, o teste ergométrico. Começou como
sempre: a esteira rolando de forma, digamos, amigável. Aos poucos a velocidade
foi aumentando até chegar à velocidade máxima para um sujeito de 62 anos de
idade – detalhe: 62 anos de idade e 17 anos de exultação.
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Mas,
voltemos aos fatos: o coração começou a querer explodir. Fiz de conta que
estava tudo bem, até que a médica perguntou:
-
Vamos chegar ao máximo? Se chegar ao máximo, o exame será mais preciso.
Topei.
Meti o pé na esteira e fui em frente naquele caminho que não leva a lugar algum. Pernas,
pés e coração funcionando juntos. Era uma questão de desafio, entende? Chegar,
atingir, enfrentar... Eu queria ver, sentir, arrostar.
E fui
em frente. Afinal, após uns oito minutos de luta, terminou a refrega. Eu havia
chagado ao meu limite. A máquina parou. Meu corpo todo tremia, minha mente estava
turva. Eu não disse nada, mas a médica, – grande profissional que é –, percebeu
que eu não estava bem: depressa arrancou da esteira os fios que mediam a minha
pressão, manteve-os presos a meu peito e mandou que eu deitasse numa daquelas
caminhas estreitas de hospital. Sabe aquelas caminhas de urgência? Pois foi numa delas que fiquei. E a médica disse: – Repouse, fique calmo - com voz tranquilizadora.
Isso me serenou e deitei: exausto, suando.
Os
fios monitoravam o funcionamento do meu coração que pulava.
Fiquei
lá, estendido, vendo estrelinhas brilhando. Meu corpo, para mim, quase não
existia. Eu estava, penso, entre vivo e morto. A médica disse que minha pressão
estava dez-por-não-sei-quanto e eu senti que afundava.Tudo escureceu. Percebi que estava chegando a um limite dantes nunca experimentado: terrível e
magnífico ao mesmo tempo; um vai-e-vem para cima e para baixo, um movimento para um lado e para o outro. Sístole e diástole. Em seguida veio um frio intenso em todo o corpo e a
respiração parecia doida, sem ritmo, em ondas.
Após,
veio uma onda de calor. E senti, aos poucos, que voltava à normalidade. Aos
poucos fui melhorando daquela estranha e escura experiência e afinal disse à
médica que estava legal.
Logo
a seguir fui liberado. Saí do hospital, cheguei ao carro no estacionamento, pus
a chave no contato e dirigi de forma automática, como se estivesse flutuando. O
mundo fluía, o trânsito era apenas uma imagem baça, lateral. No pescoço o nó corrediço de
uma corda que eu mesmo controlava. À minha maneira eu administrava aquela corda
perigosa e mortal, podendo colidir a qualquer momento.
Era
como se não existissem os carros, a ameaça de uma batida iminente, uma pesada advertência correndo
ao lado do meu automóvel. Eu sabia do perigo, mas assumi o risco.
Tenho, sempre
tive, um bom domínio de volante. Confiei nisso. E valeu a minha expertise como motorista. Ufa!
Afinal, cheguei à minha casa e desabei na cama. Estava em frangalhos, um bagaço.
Mais tarde, sentindo poderosa
exaustão, sequer consegui ir às aulas no setor II, o meu querido setor II da
UFRN. Gosto das aulas, das jovens inteligências, do debate, da vivência com os futuros jornalistas, decididos e loucos. Mas não pude ir.
Encerrando essa história: foi incrível. Foi barra. Foi
perigoso. Foi fulgurante, foi humano, maravilhosamente humano. Foi uma coisa bem minha, intransferível, própria.
Foi, sem dúvida, um grande texto existencial, uma grande reportagem. Uma viagem a mim mesmo. Faria tudo outra vez. Farei no próximo ano. Vou arriscar.
Bom;
sem mais, relato a você essa experienciação, esse arpejo, essa torta sinfonia.
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