Um túnel para a China, tiros de canhão e o lindo futuro que
nos aguarda
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Hoje amanheci em 1901 e tenho a
estranha sensação de que há algo errado: meu terrível vizinho, que tem o
estranho hábito de ter tanques de guerra em seu jardim, amanheceu tocando clarim
e “convocando todos os patriotas à guerra.”
Ouvi tiros e ele informou-me que está atacando o Palácio Presidencial, pois é ali que “encontra-se o mal para a nação.”
Ouvi tiros e ele informou-me que está atacando o Palácio Presidencial, pois é ali que “encontra-se o mal para a nação.”
Estranhei, porque nosso
presidente é um velhinho de 95 anos que costumeiramente vem à minha oficina
tipográfica para pedir conselhos a respeito de como seria possível estabelecer relações diplomáticas com a China facilitadas por um túnel que nos levaria diretamente à Cidade
Proibida.
Informo sempre ao nosso Presidente
que sou apenas um tipógrafo que aprendeu esta arte diretamente de Gutemberg. Sendo
assim, nada posso oferecer a respeito de pactos internacionais; especialmente esse,
que nos levará diretamente ao outro lado do mundo. Mas ele insiste em construir o túnel e
sugeri que fosse imediatamente ao Arquiteto Chefe, senhor de sabenças e versado
em tais assuntos.
Mas agora o Presidente
encontra-se sob fogo de canhão e preciso saber se está bem. Chego ao Palácio
Presidencial e, para gáudio meu, tudo está como devia: o Palácio não foi
atingido pelos obuses e o Presidente dedica-se a instrutiva conversa com suas
plantas carnívoras a quem sempre recorre quando deve tomar decisões
importantes. Após, claro, ouvir-me também, já que me convoca sempre que parlamenta com suas plantas carnívoras.
Pergunto se teme ser
deposto e explico que meu temível vizinho o está atacando a fogo pesado. Ele
contesta. E vejo que tem razão, até mesmo pelo fato de que eu mesmo já havia visto
que o Palácio está inteiro. Corro então ao meu vizinho e digo-lhe que suas tentativas
são inúteis: os canhões estão aprumados para alvo bem distinto e distante do
Palácio Presidencial.
Ele admite o erro e diz que,
diante disso, o inimigo agora é outro: imediatamente virou os canhões para a
minha casa e garante que, sem dúvida, conseguirá obter uma grande vitória, uma vez que, como inimigo perigosíssimo, devo ser eliminado o mais rápido possível.
Como
sei que estou diante de um
louco corro e fujo. Nesse momento acabam a munição dos canhões. O
vizinho, desesperado e demente, derrotado por sua própria incompetência
em não prover-se de munição, muda de tática e de objetivos: corre
a me abraçar, pede perdão, e sugere que eu o leve ao Palácio Presidencial. Assim o faço e ele propõe: “Excelência, precisamos com urgência construir aquele túnel que
nos leve diretamente à Cidade Proibida. Aquele projeto que o senhor tanto defende.”
O Presidente aceita
imediatamente, felicíssimo com o apoio à sua grande obra. O meu vizinho louco agora cochicha com ele. Dessa conversa resulta, inesperadamente, a minha prisão: o louco continuara tramando contra mim; o abraço fora apenas parte do processo para me destruir.
Resultado: agora estou munido, veja bem, munido, de um picareta a cavar um enorme buraco em direção ao centro da Terra. Estou suado e cansado. E acima de tudo decepcionado com o presidente. Veja só: ao ouvir a proposta do louco para a construção do túnel esperava que o Presidente me nomeasse Mestre Geral das Construções Inúteis, mas agora eis-me aqui, suando e exausto como um escravo.
Resultado: agora estou munido, veja bem, munido, de um picareta a cavar um enorme buraco em direção ao centro da Terra. Estou suado e cansado. E acima de tudo decepcionado com o presidente. Veja só: ao ouvir a proposta do louco para a construção do túnel esperava que o Presidente me nomeasse Mestre Geral das Construções Inúteis, mas agora eis-me aqui, suando e exausto como um escravo.
Em silêncio, quase meditação, fico pensando: dizem que
um dia haverá um ano de 2014 quando todos os problemas do mundo estarão resolvidos e
o belíssimo túnel hoje em construção nos ligará às coisas mais belas da China.
Com habilidade e matreirice consegui fugir do meu lamentável trabalho. Entrei numa máquina do tempo dei uma passadinha na Idade Média, mas vou imediatamente para o futuro. Lá chegando, contarei a você como será o magnífico ano
de 2014.
Abraços,
Emanoel Barreto
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