quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Discurso Colação de Grau 2013.2 - Comunicação Social - UFRN




Caros colegas jornalistas,
Caros colegas radialistas,
Caros colegas publicitários,

Estais aqui cumprindo rito de passagem que é ao mesmo tempo solene e formal, necessário e exigível pelas normas da academia. Mas tal ato é também vivaz e luminoso, alegre e juvenil; representa a última fronteira de vossas mais recentes conquistas e abre ante vosso olhar o limiar desafiador de novos começos. Este ato é um brinde e uma celebração. É gesto, é sagração.

Chegastes até aqui após cumprida intensa maratona, superados todos os obstáculos, vencidos os muitos instantes de incerteza. Enfrentastes as avaliações semestrais, os terrores noturnos da redação do TCC e a chegada ofegante à banca; a banca essa pequena Santa Inquisição que as universidades criaram para vos testar. E ante tudo isso, e apesar de tudo isso estais aqui e estais aprovados. Sois, portanto, vencedores.

Diante disso e em razão do pleno merecimento de todos vós, peço aos pais e familiares que levantem-se e aplaudam seus filhos e filhas, afilhados e afilhadas.
Por favor.

Quanto aos formandos fiquem todos sentados.
Obrigado. Voltai a vossos lugares.

Caríssimos, estamos aqui vivendo um grande momento. E digo: precisamos ter consciência de quando vivemos um grande momento. Para tanto, é preciso ter sensibilidade, pois os grandes momentos são indefiníveis, intangíveis, são com luzes dentro de nós. Somente podem ser compreendidos pela emoção.

Eles não podem ser contados como as horas ou os minutos; não cabem dentro dos relógios. Eles só podem ser vividos; unicamente vividos. Os grandes momentos são dotados de encantador mistério, como a paradoxal poética de Zeca Baleiro quando nos diz: “Eu não sei dizer/O que quer dizer/ O que eu vou dizer.”

Então, sem tentar explicar, eu vos digo: eu não sei dizer o que são os grandes momentos; mas sei dizer que eles são isso que todos vocês estão sentindo agora: a lágrima brotando, que na verdade é uma lagrima sorridente; uma sensação de aperto no peito que no fundo, no fundo, é alegria. Não precisa explicar. Basta viver. Podem viver.

E como exemplo essencial disto que agora experienciamos temos a reunião de três grandes vertentes da comunicação: a publicidade, o jornalismo, o radialismo. Profissões de arrojo e de grandes momentos. Jovens recém-formados por uma universidade federal cujo compromisso histórico é com o social.

Jovens que vivenciaram uma universidade que se empenha na busca da excelência, jovens que tiveram dos professores a convocação ao aprendizado técnico e às descobertas teóricas. Todos unidos pelo liame central da ética e do respeito à cidadania.

Sei que não há como negar a presença e a necessidade do mercado. Mas acima do mercado está o social, estão a cidadania e o ser humano. Sois, jornalistas, radialistas, publicitários, de uma geração que sem dúvida alguma saberá entender que o processo histórico tem pressa e cobra de cada um força, sensibilidade, decisão, habilidade e coragem.

Isso porque, na complexidade da existência humana, deverá haver sempre lugar para o poema e para o trabalho, para o silêncio e para o brado, para a conciliação e para a resistência, para a serenidade e para o enfrentamento.

Às vezes tudo isso ao mesmo tempo, em notável convergência de conflitos dentro de cada um. É a condição humana em sua magnífica e contraditória expressão.

É a mistura de nossas decisões e indecisões que nos faz buscar o caminho, mesmo sabendo que este pode ser uma senda estreita em meio à escuridão. E aí está a grandeza do radialista, do jornalista, do publicitário: trazer luz à missão que cada um escolheu. Criar é da essência mesma de todos vós. E quem cria ilumina. E se a criação e o caminhar são solitários, a luz é sempre compartilhada.

Tem sido sempre assim sobre a face da Terra apesar da condição humana, apesar dos temores, das incertezas, apesar de tudo. De tudo o que somos, de tudo o que não podemos ser, de tudo o que não pudemos ser, de tudo o que não pudermos ser. Mas, apesar de tantas limitações, tentaremos, vamos continuar tentando.

Vossos textos, áudios e vídeos luminosos serão a prova do que digo: esse trabalho reluzirá na medida exata da responsabilidade e da ética aliadas à perfeição do estilo, ao delineamento dos cases e das imagens, à beleza da sonoplastia.

Mas, atenção: vossas produções vos encaminharão inevitavelmente ao viés político e histórico, ao instante de dizer não ao não; ao momento, ao grande momento de gritar eu não aceito a injustiça, eu renego os maus governantes, eu me levanto contra a exploração do homem pelo homem, eu repudio a corrupção neste país.

E direis então, como o grande Bob Dylan em sua canção-poema: “Eu bato à porta do céu. Está ficando escuro demais para ver. E eu preciso de luz.”

E direis: quero luz para um mundo que se fez escuridão além da conta, tornou-se temível demais, traiçoeiro demais. Eu exijo que se abram e se derrubem todas as portas da opressão e da desigualdade, da injustiça e das diversas manifestações da brutalidade. Quero luz, quero mais luz.

E com mais rigor afirmareis: como ser humano tenho o direito de cobrar uma existência digna para mim e para meus iguais. Como pessoa tenho a obrigação de ter direitos. Como cidadão e cidadã quero uma sociedade que resgate o sentido de honradez. Como dizia Goethe, em Fausto, "a lei é poderosa; mais poderosa, porém, é a necessidade."

Assim, que a necessidade do homens prevaleça sobre as leis injustas. E nessa luta contra a injustiça devereis erguer as vossas vozes e dizer que é preciso comunicar ao mundo que chegou a hora de mudar.

E para que venham as mudanças proponho que sigais batendo na porta da democracia e da justiça social, da solidariedade substituindo o materialismo, do abraço em lugar da frieza. Batereis na porta da coragem e direis “estou convosco; eu resisto”; chegareis ao limiar dos desafios e direis “não volto atrás, eu enfrento.”

Ireis até os poetas e aos loucos, aos andarilhos e aos sem-nada e lhes estendereis as mãos, gritando: “Venham, vamos bater juntos na porta do céu.”

Porque o céu não está nas alturas. Ele está nas ruas, nas praças e nas casas, nos becos e nas favelas. O céu está dentro de cada um de vós. Vosso céu é vossa revolta, descontentamento e indignação. Vosso céu é vossa luta. É vossa coragem e ousadia. Vosso céu é vosso gesto. Vosso céu é vosso não!

O céu é a juventude luminosa em vossas frontes, o brilho do olhar, a vontade do futuro. Vosso céu são também vossos brindes, alegrias e celebrações. E deveis também enfrentar os que não querem que as pessoas sejam felizes. Os preconceituosos, os de mente escura e sombria. Abaixo todos eles.

Agora, jamais ide a um lugar longe demais. A um lugar aonde não tenhais coragem da imensidão. Pois é preciso ter coragem da imensidão para chamar a si os desafios. Mas, sei que tendes essa coragem. Não é à toa que sois jornalistas, publicitários e radialistas.

E sabeis porque confio tanto em vós? Muito simples: porque para cá só vem quem é feito da argamassa poderosa dos tijolos que constroem as muralhas; do ferro que ergue pontes sobre abismos; do ouro que reluz em vossos corações como medalhas de vitória. Sintetizando: para cá só vem quem é feito de vida!

Agradeço a honra de aqui estar, agradeço a generosidade do convite. Estendo aos colegas professores o meu abraço e os convido também a bater à porta do céu e da grandiosa loucura que é existir em nosso tempo maravilhoso e ameaçador.

Desejo a todos e a todas sucesso, vitórias, realizações e reconhecimento. Desejo, acima de tudo, uma atividade profissional comprometida com os desafios históricos e com a ética.

E vos proponho uma utopia; a utopia que é o sonho corajoso. A utopia de lutar por um Brasil mais justo, numa sociedade mais honrada, mais crítica, mais forte. A utopia de o homem viver com grandeza sua louca aventura na face da Terra.

E afinal vos apresento as palavras poderosas de Antero de Quental, endoidecido de sonhos, quando dizia: “A galope, a galope, ó fantasia! Plantemos uma tenda em cada estrela!”
Muito obrigado.

Nenhum comentário: