Uma conversa aparentemente maluca numa tarde de calor
Foi numa tarde de calor
abafado, meados de 1976, que fiz uma entrevista com um executivo. Não lembro se
era empresário ou gerente de banco. Era jovem, e fora entrevistado a respeito
da situação da economia do Rio Grande do Norte. Falava bem, era assertivo,
fluente. O tipo da fonte boa de entrevistar. Respostas certeiras e objetivas. Chamava-se
José do Egito. Voltamos a nos ver mais uma ou duas vezes.
Mas foi em nosso primeiro
contato que ele me impressionou. Foi assim: depois dessa conversa aplicada a
que chamamos entrevista passamos a falar de outros temas. É comum, enquanto o repórter
espera o carro do jornal para voltar à redação. Não lembro bem porquê, mas
falamos a respeito da capacidade de decidir, aquele momento em que precisamos
tomar atitude, firmar posição.
Disse-me ele: “Barreto, não
tenho coragem de nada; mas também não tenho medo de nada.” Rimos muito da
afirmativa, seu paradoxo, sua matreira incompreensibilidade, até mesmo aparente
falta de sentido; uma coisa anulando a outra.
Dias depois, pensando bem,
creio que cheguei ao sentido daquela frase: seria ela, creio agora, o
indicativo de que o homem que adota tal atitude, que o leva a um ponto zero,
ter atingido uma espécie de serenidade.
Sente-se imerso numa situação, percebe
que não tem como sair, a não ser pelo enfrentamento, e escolhe de que forma se
dará tal enfrentamento: recuar taticamente (numa suposta falta de coragem, que
na verdade é atitude engenhosa) ou partir para o ataque (a coragem vivida dê no
que der).
Creio então que é isso:
devemos, precisamos escolher o momento preciso para tomar atitudes.
Experienciar os momentos, neles imergir e avançar na direção daquilo que deve
ser o comportamento compatível.
Cuidado com os traiçoeiros e
dissimulados, mas mantenha-se perto deles para perceber quando arquitetam sua
traição. Conheça seus métodos, suas palavras, suas regras. Faça de conta que é
a vítima perfeita. Mas apoie e apoie-se nos que sejam confiáveis e retribua à
altura seus gestos de dignidade.
É isso; bom fim de semana. E,
de qualquer forma, um abraço a José do Egito.
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