sábado, 17 de agosto de 2013

De medo e de coragem



Uma conversa aparentemente maluca numa tarde de calor

Foi numa tarde de calor abafado, meados de 1976, que fiz uma entrevista com um executivo. Não lembro se era empresário ou gerente de banco. Era jovem, e fora entrevistado a respeito da situação da economia do Rio Grande do Norte. Falava bem, era assertivo, fluente. O tipo da fonte boa de entrevistar. Respostas certeiras e objetivas. Chamava-se José do Egito. Voltamos a nos ver mais uma ou duas vezes.
 
http://desmotivado.com/2009/05/13/coragem-2/
Mas foi em nosso primeiro contato que ele me impressionou. Foi assim: depois dessa conversa aplicada a que chamamos entrevista passamos a falar de outros temas. É comum, enquanto o repórter espera o carro do jornal para voltar à redação. Não lembro bem porquê, mas falamos a respeito da capacidade de decidir, aquele momento em que precisamos tomar atitude, firmar posição.

Disse-me ele: “Barreto, não tenho coragem de nada; mas também não tenho medo de nada.” Rimos muito da afirmativa, seu paradoxo, sua matreira incompreensibilidade, até mesmo aparente falta de sentido; uma coisa anulando a outra.

Dias depois, pensando bem, creio que cheguei ao sentido daquela frase: seria ela, creio agora, o indicativo de que o homem que adota tal atitude, que o leva a um ponto zero, ter atingido uma espécie de serenidade. 

Sente-se imerso numa situação, percebe que não tem como sair, a não ser pelo enfrentamento, e escolhe de que forma se dará tal enfrentamento: recuar taticamente (numa suposta falta de coragem, que na verdade é atitude engenhosa) ou partir para o ataque (a coragem vivida dê no que der).

Creio então que é isso: devemos, precisamos escolher o momento preciso para tomar atitudes. Experienciar os momentos, neles imergir e avançar na direção daquilo que deve ser o comportamento compatível. 

Cuidado com os traiçoeiros e dissimulados, mas mantenha-se perto deles para perceber quando arquitetam sua traição. Conheça seus métodos, suas palavras, suas regras. Faça de conta que é a vítima perfeita. Mas apoie e apoie-se nos que sejam confiáveis e retribua à altura seus gestos de dignidade.

É isso; bom fim de semana. E, de qualquer forma, um abraço a José do Egito.


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