MEU DISCURSO COMO PARANINFO DAS TURMAS CONCLUINTES DE JORNALISMO, RADIALISMO E PUBLICIDADE E PROPAGANDA DA UFRN - 2013.1.
Autoridades presentes ou representadas,
Caros colegas publicitários, radialistas, jornalistas,
Minhas senhoras, meus senhores,
Tomemos como marco zero deste pronunciamento o reluzente e magnífico
poema sinfônico de Richard Strauss. Uma portentosa composição; intensa,
grandiosa, gesto de larga beleza. Um minuto e 44 segundos, não mais que
isso. Ouçamos.
(Assim falou Zaratustra)
Tivemos aqui poderosa demonstração do quanto a música pode nos levar a
instantes mágicos, momentos de vida interior. A música como elemento
tornado vivo pela mestria dos instrumentistas. É da convergência dos
talentos, de sua união pela sinfonia, que surgem a harmonia, o
equilíbrio, o maravilhoso efeito sonoro, arrebatador e largo, sugestivo e
arrojado.
Temos aqui, neste encontro, como numa grande
orquestra, a união exata e necessária de três segmentos da comunicação,
atuando em sintaxe perfeita: a publicidade como instante de criação que
elabora o discurso da cidadania e da divulgação de produtos e serviços; o
radialismo em sua missão de trabalhar a representação do real, expondo,
em suas diversas manifestações sonoras, a palavra e a canção, a imagem e
sua estética. E o jornalismo diante das responsabilidades de informar e
opinar com serenidade, coragem e vigor.
E os três ligados pela paixão daquilo que fazem.
Somos; jornalistas, publicitários e radialistas, agentes com
responsabilidades históricas indeclináveis. Vivemos um mundo em transe,
instante em que os desafios, as incertezas, temores e ameaças fazem
cambalear verdades e construções, crenças e valores.
E somos
nós, desta forma, parte deste processo transformador, contribuindo para
uma sociedade mais justa, democrática e participativa. Somos,
inescusavelmente somos, portadores da tocha, criadores da luz;
investindo sobre o que se quer ocultar ou negar, denegrir ou
obstaculizar no homem o seu processo de engrandecimento, seu sentido
histórico e de vida.
Temos compromisso ético com a democracia,
com a humanização, com uma sociedade mais justa e com o enfrentamento a
todos os que se oponham à dignidade do homem e desrespeitem as
liberdades individuais, a partilha e a solidariedade.
Diante do que
acabo de dizer, pelo sentido que busco dar às minhas palavras, creio que
momentos como este são especiais. São momentos de encontro. Não apenas
pela alegria comemorativa da vitória de todos vocês, mas justamente pelo
fato de que vivemos aqui o brotar de uma geração que pode, e sabe que
pode, contribuir para esse mundo que se espera novo.
Relembro
aqui palavras do grande Guimarães Rosa, que em sua epopéica obra "Grande
sertão: veredas", nos conta: "Um menino nasceu -- o mundo tornou a
começar."
Não é pouco o que nos diz tal assertiva. Em apenas
oito palavras o mestre, de alguma forma, resume a condição humana em
tudo o que ela tem de mais trágico e grandioso, aterrador e belo. Há
poesia e tempestade.Há todo um sentido profundo e desafiador em suas
palavras.
Todos hão de concordar: se um menino nasceu, houve
quem o antecedesse. E isso em meio a todas as limitações e
possibilidades que são legadas aos homens em sua misteriosa dor do estar
presente. E não é pouca coisa. Chegando ao mundo o menino torna-se, por
isso mesmo, legatário e imerso no grande mar-oceano que é o existir, em
todas as suas contingências.
O recomeço do mundo, tal qual nas
palavras de Rosa, também se dá aqui, marco zero de suas jovens vidas.
Daqui todos sairão para o vasto território do futuro. Superaram as
fronteiras da universidade para chegar ao limiar de um novo passo.
Cheios de vontade, de planos, de projetos. Cheios, por que não dizer, de
sonhos.
Sonho não como sinônimo de devaneio, realização efêmera de uma vontade, desejos de vaguear numa alegria passageira.
Proponho então o sonho como a antevisão, o porvir certeiro e decidido
de quem saberá construir seu próprio tempo. E o tempo de cada um sabe
que o tempo maior da existência não tem tempo a perder ou duvidar.
E nessa certeza, exatamente aí, está a força de vocês, que
construíram, no passo a passo da universidade, a nau que está prestes a
partir e a se fazer saudade aos que ficamos a plantar novos sonhos e
batalhas.
Ao ficar e ao vê-los partir, digo: sou grato pelo
honroso convite que esta turma me fez. Sou grato pelo gesto e pelo
abraço. Agradeço a saudade que plantaram em meio às minhas recordações.
Agradeço aos meus pares, cuja contribuição a esta grande e solar
orquestra de jovens foi sem dúvida essencial. São, os professores,
grandes profissionais e mestres comprometidos.
(Cavalgada das Valquírias)
Agora, peço permissão para mudar a forma de tratamento, tornando-me um
pouco mais formal. E, sendo assim, a todos e a cada um eu digo: vossas
vidas não serão meras reproduções de um passado de falhas e
preconceitos, atos e desatinos que a humanidade perpetrou em seu longo e
tortuoso caminho sobre a Terra.
Vossas vidas serão a vida do
menino de Guimarães Rosa, nascido para fazer renascer a fé, a confiança,
a poesia. Assim, abaixo a brutalidade, o ódio, a cobiça, a exploração, a
insensatez e a força dos poderosos.
É de vossas vidas que
brotará a resistência a tal estado de coisas. Vossas vidas serão arrojo e
força; coesão, coerência e avanços. Vossas vidas serão, como nas
grandes epopéias, maratonas de desafios e vitórias conquistadas sem
temor.
Para tanto, para chegar à vitória, é preciso que vivais
intensamente vossa própria humanidade, compreendendo aquilo que dizia
Chaplin no texto de O último discurso: "Não sois máquinas; homens é que
sois."
Vamos adiante, vamos seguir em frente. Temos vigorosa
utopia. Vamos tomar por companheira intensa a fantasia admirável e
construtiva dos sonhos; dos sonhos que têm raízes no real, dos sonhos
que fazem florescer a vida e sua corajosa utopia. E a partir disso,da
história real dos sonhos, busco as palavras magníficas de Antero de
Quental, vos convoco e vos digo: "A galope, a galope, ó fantasia!
Plantemos uma tenda em cada estrela!" Muito obrigado.
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