sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Meu adeus ao Pantera

Leio na Tribuna sobre a morte de Wellington Carvalho, o Pantera. Lenda viva do jornalismo radiofônico, com ele convivi quando dos tempos áureos da Rádio Cabugi, geminada com a Tribuna, onde eu trabalhava. Seguiu o rumo dos grandes jornalistas e radialistas românticos: vivia a notícia, experienciava a via jornalística como algo imerso aos fatos narrados. Preocupou-se quase nada consigo mesmo, com seu futuro. Pagou caro, velho amigo, pagou caro. A você um grande abraço e uma saudade que acaba de se inaugurar no meu memorial íntimo.
.............

Morre Wellington, o "Pantera"

Publicação: 07 de Setembro de 2012 às 00:00

O radialista Wellington Pereira de Carvalho, uma das referências na história do radialismo potiguar, morreu na manhã de ontem aos 69 anos, vítima de uma série de complicações como enfisema pulmonar, pneumonia e insuficiência cardíaca. A filha, Karine Cleide Leal de Carvalho, informou que o pai estava internado no hospital Santa Catarina há 13 dias. "Ele não reclamava de dor no coração, mas falava o tempo todo de falta de ar, então resolvi levá-lo para fazer um diagnóstico mais detalhado. Foi quando o médico pediu a internação", disse Karine. O corpo está no centro de velório da rua São José e o enterro marcado para às 9h de hoje, no cemitério Parque de Nova Descoberta.

Anderson LinoWellington de Carvalho, 69 anos, foi redator e líder da equipe que marcou época com o programa Patrulha da Cidade, na Cabugi AMWellington de Carvalho, 69 anos, foi redator e líder da equipe que marcou época com o programa Patrulha da Cidade, na Cabugi AM

O "Pantera", como Wellington era conhecido pelos amigos - devido a altura, a magreza e uma vasta cabeleira - nasceu em Parelhas, em 1943. Veio para Natal trabalhar como faturista na empresa Nóbrega & Dantas, na subida da então rua Junqueira Aires, ao lado do jornal A República. Começou a trabalhar em comunicação por causa de uma paixão pelo rádio e conseguiu a vaga de plantão esportivo na antiga Rádio Rural (AM) por um lance do acaso.

Wellington sintonizava várias emissoras do pais, durante a noite. Na semana em que se anunciava a vinda do time do Santos de Pelé, Pepe e Coutinho, sensação na década de 1960, para jogar com o ABC em Natal, ele soube pelas rádios paulistas a informação de que o Santos não viria mais para a capital potiguar. Tentou, então, avisar vários locutores esportivos da cidade, mas só recebeu crédito do jornalista Paulo Tarcisio que lhe chamou para o estúdio da rádio Rural e deixou que ele lesse a notícia, ao vivo.

A partir desse "furo", o próprio Paulo Tarcísio convidou Wellington para fazer parte da Rádio Rural com os plantões esportivos. O talento de Wellington logo foi  percebido, a ponto de ser chamado para também fazer as tradicionais jornadas esportivas na década de  1970 junto a equipe da Rádio Cabugi (AM), líder de audiência no estado na época.

Incorporado a equipe do "Escrete de Ouro", Wellington se destacou na cobertura da Copa do Mundo de 1970, conquistada pelo Brasil, atuação que lhe rendeu o apelido de  "o ouvido de ouro". Durante o período em que cobria esportes, Wellington começava sua jornada às 5h dando resultado do jogo do bicho, brigada de galo e de regatas no Rio Potengi.

Após um período de cinco anos (1972-1977), no qual trabalhou em Fortaleza (CE) para a Rádio Dragão do Mar, Wellington Carvalho voltou para Natal e para a Rádio Cabugi AM. Foi produtor, redator, locutor e comandante da equipe do programa "Patrulha da Cidade", crônica informativa e bem humorada dos registros policiais cotidianos de Natal e cidades próximas. Faziam parte da equipe o radialista Tom Borges, Nice Maria, o "coronel Bolachinha" e Ubiratan Camilo, todos já falecidos.

Com a "Patrulha da Cidade", Wellington consolidou de forma definitiva sua atuação e se tornou um dos nomes mais conhecidos do rádio potiguar. O sucesso de audiência levou a equipe do programa a fazer shows por cidades do interior do Estado. Mas, Wellington Carvalho também fazia jornalismo sério. Durante mais de 10 foi o redator chefe da equipe de jornalismo da Rádio Cabugi, atuando em coberturas eleitorais e de grande impacto, como a transmissão das enchentes em Santa Cruz e os terremotos em João Câmara.

Companheirismo fora e dentro das redações onde trabalhou

O jornalista Carlos Peixoto, diretor de Redação da Tribuna do Norte, trabalhou com Wellington Carvalho no início da década de 1980, como repórter da Rádio Cabugi, e destaca a "disponibilidade"do radialista, para ensinar aos mais novos,  como um dos traços marcantes. "Ele já era uma legenda do rádio, assim com a Patrulha da Cidade, mas nunca se deixou contaminar por isso. Ensinava a mim e a outros focas a fazermos entrevistas, a redigir o noticiário e a falar ao vivo com a atenção e interesse de um professor dedicado", lembra Peixoto.

O companheirismo nas redações era estendido ao ambiente dos bares e até mesmo a vida privada dos colegas de trabalho. "Naqueles anos, saiamos das redações da Cabugi e da Tribuna para os bares da Ribeira e Wellington era um dos pólos que nos atraia, terminado o trabalho, para o ambiente de boemia e camaradagem na Peixada Potengi, nos barracos do cais da Tavares de Lira", prossegue Peixoto. Em torno da mesa, quase sempre liderada por ele, juntavam-se os companheiros de trabalho e também pescadores, comerciantes, mecânicos e outros tipos com que o radialista mantinha amizades.



Com o fim do Patrulha da Cidade, em 1985, a redução dos espaços noticiosos no rádio AM potiguar e o avanço das FMs, a saída de Wellington Carvalho da Rádio Cabugi começou a se desenhar como algo inevitável. Em 1986, Wellington foi trabalhar na assessoria de imprensa da Prefeitura de Natal, levado pelo então prefeito Garibaldi Filho. Ficou responsável pelos programas do rádio em que o prefeito eleito "conversava" com a população. O modelo se repetiu, com Wellington na mesma função, durante os oito anos de mandato de Garibaldi como governador.

Funcionário comissionado, sem vínculo permanente com a Prefeitura ou o Governo, Wellington Carvalho nunca se preocupou em planejar como encerraria a carreira profissional. Nos últimos anos, precisou trilhar a via-crúcis da burocracia para comprovar tempo de serviço e de contribuição, obtendo uma aposentadoria.


Nenhum comentário: