sexta-feira, 1 de junho de 2012

O governo dos bons pastores

 Ao ler na Tribuna do Norte notícia que abaixo transcrevo, veio-me a sensação de que, em matéria de saúde, estamos no mínimo em situação lastimável; no mínimo. O dengue já é epidemia e o que é pior, epidemia sazonal, o que implica previsibilidade e, portanto, ação de política pública para sua erradicação. Por sua vez o sistema hospitalar é um caos ou quase isso, como bem mostra a Tribuna.

 O que temos é uma sucessão de governos que não leva a saúde a sério, ou seja, não leva a sério a sociedade. O setor deve e pode ter atuação eficaz, com destinação de verbas necessárias e suficientes para atender à demanda. É direito social e responsabilidade, melhor dizendo dever do Estado.

O que não se leva em consideração, saindo-se agora do aspecto planejamento e administração, é o fator humano: não é salientada a questão do sofrimento, da dor até mesmo existencial dos que esperam por um atendimento que nunca é feito, amparo que sempre é negado.

Não creio que os governantes saibam o que é esperar meses e meses por uma ultrassonografia, muito menos o que seja chegar ao Walfredo Gurgel em situação de urgência ou emergência é ficar literalmente jogado, atirado a um canto como objeto inservível. 

 O grande problema é que, quando das campanhas eleitorais tudo é prometido, tudo está assegurado e o mundo virá a ser ideal, ante a presença de um Estado assistente e comprometido. A realidade, assim, é a realidade irreal da propaganda, onde se mostra de forma compacta benfeitorias e bondades, o governo dos bons pastores que acolhem a protegem as suas ovelhas.

Mas, na vida, é diferente, e cabe ao povo sofrer e esperar, aguardando que um dia, não se sabe quando, os bons pastores virão mesmo a atender às suas ovelhas. Amém. 

Segue o texto da Tribuna.

Leitos são metade do recomendado

Publicação: 01 de Junho de 2012 às 00:00

Roberto Lucena - repórter

O número de leitos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no Rio Grande do Norte é 50% inferior ao recomendado pelo Ministério da Saúde. Somente na capital, existem 151 vagas, nas redes pública e privada, quando o necessário seria pelo menos 300. A situação pode piorar caso o Conselho Regional de Medicina (Cremern) interdite alguns leitos que funcionam, segundo especialistas, de forma irregular. A demanda reprimida é outra preocupação. Em alguns hospitais, há casos de pacientes que aguardam por cirurgias há mais de um mês por falta de vagas nesse setor.
Júnior SantosApenas em Natal, número de leitos pode ser ainda menor do que é apresentado, devido aos instalados sem equipamentos adequadosApenas em Natal, número de leitos pode ser ainda menor do que é apresentado, devido aos instalados sem equipamentos adequados

As autoridades de Saúde Pública não sabem qual a quantidade exata de pacientes que, nesse momento, aguardam uma vaga nas UTIs. No entanto, de acordo com o presidente da Sociedade Norte-Riograndense de Terapia Intensiva (Sonorti), Antônio Fernando, o índice é elevado. "Não sabemos exatamente esse percentual porque os hospitais não fazem esse acompanhamento. Porém, é certo que há uma demanda reprimida muito alta. O número de leitos é baixo", disse. 

A falta de leitos nas UTIs do Estado é assunto discutido há muito tempo. Em abril passado, devido à falta de vagas na rede pública, a juíza Patrícia Gondim Moreira Pereira, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Natal, determinou ao Estado do Rio Grande do Norte e ao Município de Natal a instalação ou ampliação de leitos, conforme determinado pela Portaria Ministerial nº 1.101/2002, em um percentual de no mínimo 7% dos leitos totais. A determinação foi confirmada pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJRN) e Estado e Município têm cerca de cinco meses para cumprir a ordem sob pena de pagar multa diária.

Porém, mesmo com a decisão judicial, a população não observa melhorias. Pelo contrário. No dia 18 de maio, a UTI do Hospital Giselda Trigueiro foi transferida para o Hospital Ruy Pereira. O motivo da mudança inesperada foi um curto-circuito na rede elétrica do Giselda que danificou alguns aparelhos. Desde então, os pacientes estão acomodados em uma sala improvisada. O espaço é amplo mas não oferece a mesma comodidade e segurança necessária. "A pior parte diz respeito aos diagnósticos. Estamos aqui, mas todos os exames são feitos no Giselda. Além disso, as roupas e alimentação também vêm de lá. Fica complicado trabalhar assim", relatou Ariane Pereira, infectologista. Na tarde de ontem, quatro pacientes estavam no setor. Não há informações de até quando a UTI do Giselda Trigueiro funcionará de forma improvisada.

Enquanto isso, médicos e pacientes dividem uma outra preocupação. O hospital Ruy Pereira pode sofrer intervenção ética. Em janeiro, os médicos que trabalham no local entregaram um documento à Sonorti relatando as dificuldades e necessidades. Segundo Antônio Fernando, na UTI, que abriga cinco leitos, não há material básico como aparelho de raio-x. "Os médicos nos relataram que há problemas com exames laboratoriais. É difícil manter uma UTI funcionando nessas condições", disse. O Cremern, segundo o presidente, tem conhecimento da situação e deve se pronunciar nos próximos dias.

A TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com a secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) na tarde de ontem. A assessoria de imprensa informou que "há alguns dias, algumas pessoas procuram a secretaria para falar sobre o assunto, mas ninguém está à vontade para falar sobre isso". A Sesap está sem secretário desde o início de maio. Alguns questionamentos foram encaminhados à Sesap, via e-mail, mas não obtivemos resposta.

Sindicatos querem interditar o Walfredo

O Conselho Regional de Medicina (Cremern) deverá receber, nos próximos dias, o pedido de interdição do Hospital Walfredo Gurgel. A solicitação partirá do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed-RN), Sindicato dos Trabalhadores em saúde (Sindsaúde-RN) e Sindicato dos Odontólogos do Estado (Soern). Na última quarta-feira, os sindicatos se reuniram e decidiram que, devido aos constantes problemas de abastecimento e lotação, a interdição total do hospital seria a melhor solução.

O presidente do Sinmed-RN, Geraldo Ferreira, sugere que a interdição seja feita por etapas. "Temos consciência de que não é possível um fechamento total do hospital de uma única vez, pois não há como se transferir 400 pacientes de imediato, por isso sugerimos o fechamento por etapas", explicou. Os sindicatos querem ainda que haja uma fiscalização mais efetiva nos hospitais da rede pública estadual a fim de que seja elaborado um documento com pontos a serem cobrados ao Governo do Estado.

Pelo menos um setor do Walfredo Gurgel já está interditado. Desde o dia 8 de maio, o setor de reanimação sofreu intervenção do Cremern. Segundo o Sindsaúde-RN, nenhuma providência foi tomada. De acordo com Jeancarlo  Cavalcante, presidente do Cremern, a solicitação dos sindicatos deverá ser analisada pelo órgão. "Somente o Cremern tem o poder de interditar ou não qualquer unidade de saúde. Não recebemos nenhum ofício ou documento dos sindicatos, mas o vice-presidente do Cremern esteve na reunião de quarta-feira. Vamos analisar a questão para tomar a decisão correta", disse.

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