quarta-feira, 14 de março de 2012

Acabou de chegar uma chuva de sertão: a bença, minha vozinha

Acabou de chegar uma chuva de sertão. Chuva grande, poderosa. Chuva do tempo velho, quando o sertão era terra de bicho brabo: onça esturrando alto no meio da noite densa. Chuva antiga, muito antiga, tempo em que as mulheres da casa usavam cabelo alto, arrumado num totó. Chuva boa, criadeira, plantadeira de chão, trabalhadeira da terra. De enxada e brotação. 
Arte do livro Asa Branca feita com nanquim e guache - Maurício Pereira

Não sei porquê, mas essa chuva me trouxe essa lembrança de tempo que não vivi. Dá-me a impressão, essa chuva, de uma alegre chegada de avós que moravam nos escondidos da serra, apeando na capital. E de lá me contando muito do trovão explodindo a noite, o corisco vigoroso fatiando o ar na foice, na foice da luz do céu. 

E na noite a cruviana, o frio largo do sertão, faz o homem se arranchar bem firme em cima da sela, puxar a veste de couro e esporear o cavalo em direção da morada. 

Sua bença, minha chuva, chuva velha que me manda, menino que inda sou, sair do meio do paito mode num pegar um difruço. Sua bença, chuva antiga. Sua bença, chuva antiga.

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