quinta-feira, 3 de junho de 2010


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O dossiê do PT, a revista Veja e a vida sexual da princesa Diana
Emanoel Barreto

Antonio Gramsci dizia que os jornais - e as revistas, claro - são a escola dos adultos. Lembrava também que, da mesma forma, cumprem papel de partidos políticos quando atuam de forma doutrinária. Ou seja: permanentemente são escola e partido, já que sua ação nesse sentido é contínua. Juntando tudo isso e mais a disposição de agregar público e firmar-se editorial e economicamente e chegamos ao que ele chamava de jornalismo integral.

Um jornal como a Folha e uma revista como a Veja, por exemplo, seriam então autores de jornalismo integral conservador, no mínimo.

Vejamos, com trocadilho mesmo, o caso da Veja: sua equipe soube de rumores sobre eventuais dossiês que estariam por ser preparados por segmentos do PT contra Serra e alardeou essa situação presuntiva como coisa dada e feita - mesmo mantendo suas matérias no condicional, o que por si já demonstra a fragilidade argumentativa do texto.

Perceba como eu coloquei todo o terceiro parágrafo como se fora uma situação volátil, gasosa, uma espécie de universo evocativo, um mundo de probabilidades ao mesmo tempo feérico e imponderável, cuja divulgação, todavia, causa rumor social. Ou seja: programa-se uma situação jornalística, cria-se um poliedro de especulações e temos uma notícia.

Em suma, temos um factoide. Temos, por isso mesmo, um boato. Um e outro são apenas palavras para definir o mesmo objeto social. Boato, diz John B. Thompson, é notícia não confirmada. Vindo a confirmação, é notícia mesmo. Faço um acréscimo às palavras de Thompson: o boato, o factoide, têm algo de urdidura, distorção de fato primário ou até mesmo fabricação de falso fato primário.

Como toda notícia tem em si algo de sensacionalismo - se não fosse assim não seria notícia -, mesmo as mais sérias e tanto quanto possível objetivas, resulta que o boato/factoide, elevados à condição de notícia, têm sempre, e de forma prevalecente, esse dado de sordidez bem típico do sensacionalismo.

E onde encontramos o sensacionalismo? Este é encontrado em sua face de desnudamento, exposição de terceiro a situação vexatória, como alguém que é indevidamente flagrado em momento íntimo. Esse momento íntimo pode ser algo lícito e comum à nossa condição humana, como o caso da princesa Diana. Na companhia do seu amante, seguia em carro que foi perseguido por parapazzi até à morte dela.

Os fotógrafos queriam expor aos olhos da curiosidade pública, voraz por assuntos de denotação sexual, a intimidade da vida erótica daquela mulher, trazida à tona como aquela que deixara de ser a princesinha de contos de fada para viver sua condição de fêmea. E fêmea lasciva, diga-se.

Outro caso de intimidade é a intimidade viciosa, aquela que tem laivos de imoralidade. Pronto. Foi aí que a Veja, veja só, investiu todo o seu cacife: a partir de verbos no condicional montou toda a matéria dos dossiês do PT contra Serra, como que dizendo: "Olhe só como eles são crueis e malvados. Como eles são aéticos e imorais. Foram flagrados em pleno ato de planejamento de campanha difamatória."

Só que, em processo metalinguistico, a campanha difamatória estava mesmo nos atos frasais da revista, que louvou-se em em fatos facciosos, factícios e de ouvi dizer para montar, aí sim, campanha de difamação. Veja só... Veja só...

Um comentário:

Anônimo disse...

bela análise, professor.

fagner