quarta-feira, 5 de maio de 2010

De frente pro crime ou o sorriso da Mona Lisa
Emanoel Barreto

Em minhas aulas sobre formas de comunicação disruptivas, como atos de protesto e ações terroristas, cujo objetivo imediato é abrir espaço midiático literalmente à força, costumo lembrar aos alunos que, no respeitante ao terrorismo, trata-se, além da forma abjeta da ação, de algo que obtém efetivo resultado - lamentavelmente, pela mídia, eles conseguem levar adiante a sua mensagem bombástica - perdão pelo trocadilho.

Mesmo que não sejam experts em comunicação, do ponto de vista teórico, os terroristas têm, pela própria experiência, uma certeza: aquilo que irão perpetrar encontrará espaço no mundo da mídia. Isso em função de algo que intuitivamente percebem: tudo o que quebra a planura do cotidiano, afasta-se do comum e do normal, chama a atenção dos jornalistas.

Desta forma, terroristas dão andamento às suas ações, que em si são discursos, são formas de dizer ao outrem, ao terceiro, no caso a sociedade ameaçada, que suas atitudes serão levadas avante a despeito de esquemas de segurança, precauções e cuidados militares ou policiais. Ou seja: a mensagem terrorista "informa" que eles, os terroristas, têm a possibilidade de alguma forma de invisibilidade - chegar sorrateiramente ao núcleo social visado e ali praticar o objetivo pretendido com obstinação e destemor.

É como se dissessem: "Nós estamos aqui. Ninguém está a salvo. Podemos agir a qualquer momento, em qualquer lugar, contra qualquer pessoa. E essa pessoa pode ser você, sua mulher, seus filhos, seu marido, qualquer um..."

Essa a essência do terror: infundir um sentimento coletivo de perplexidade, de desequilíbrio. As ações do terror são um grande discurso comportamental, um ato frasal escrito com sangue e destroços, uma ameaça que paira, amparada pelo pálio do sectarismo.

Na foto de capa da Folha a cara do terrorista sorri sutilmente. É o mesmo mistério que emoldura o enigma da Mona Lisa. Ela talvez nos perguntando quo vadis; ele com o cinismo dos que sabem que, olhando para si, estamos de frente pro crime em sua mais terrível e intiminadora acepção.


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