quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O terror como espetáculo remasterizado
Emanoel Barreto

A rede americana ABC News divulgou hoje novas fotos aéreas tiradas logo após os ataques de 11 de setembro de 2001, no World Trade Center, em Nova York.


As imagens foram obtidas por meio de um pedido judicial feito pela rede ao Instituto Nacional de Padrões Tecnológicos (Nist, na sigla em inglês) com base no Freedom of Information Act, ou lei sobre a liberdade de informação. Com o pedido, a rede disse ter obtido 2.779 fotos, em nove CDs. Muitas, tiradas de helicópteros, nunca tinham sido divulgadas.
O texto acima é da Folha.
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A necessidade de espetaculariz a realidade, mesmo em suas manifestações mais brutais, é uma das mais esquizofrênicas manifestações do jornalismo. A rigor, qual a utilidade, importância ou interesse na publicação dessas fotos? Ajudará na resolução de algum tipo de dúvida com relação ao ocorrido? Por suposto, não.

Todavia, uma auto-proclamada liberdade de informação serve de motivo para que tal ocorra. A sociedade do espetáculo, que traveste tudo em acontecimento de palco, tem na mídia sua maior manifestação.

Trata-se, no caso, de um processo de metalinguagem, em que o código do espetacular re-trata o que já fora espetáculo terrificante, esse, programado por artes da Al Qaeda, uma vez que o terrorismo age a fim de ocupar exatamente espaço e tempo no jornalismo.

A força do terrorismo está nos gritos que levanta a partir de uma ameaça contida em seus atos: o triste espetáculo da brutalidade não tem dia ou hora para acontecer, estabelecendo um processo de intimidação maior ou menor ante a possibilidade de sua repetição.

Reprisar as fotos é na verdade fazer renascer o que já é velho jornalisticamente, mas, como se diz, o show não pode parar.

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