terça-feira, 1 de dezembro de 2009

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O Carnatal, a gripe suína e o cavalo de Troia
Emanoel Barreto

O Carnatal este ano não será uma festa. O Carnatal é uma ameaça. Ameaça à saúde pública e ninguém parece se dar conta. Ao que temo, estamos nos encaminhando para a realização de um evento de massa em período em que uma pandemia, a gripe suína, é uma ameaça real e iminente, sendo desaconselhada a realização de tais festejos.

Quem se responsabilizará se houver um agravamento de quadro: a Destaque, que promove a festa?; o Governo do Estado?; a Prefeitura? Não, não, ninguém se responsabilizará, esteja certo. As vítimas, sim, sofrerão as consequências.

A gripe suína é uma espécie de cavalo de Troia que estamos trazendo para Natal de forma inconsequente. Mesmo ante o perigo de contágio, que qualquer pessoa de bom senso mediano pode detectar. A rede hospitalar da cidade não está apta a atender massivamente. Os jornais precisam tomar um posicionamento, a sociedade civil deve se manifestar, a fim de impedir a realização do Carnatal. Antes que sejamos levados a uma pocilga de dor, desespero, sofrimento.
...

Transcrevo abaixo texto que me foi enviado por Newton Ramalho Junior, jornalista, relatando posição da Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia. Segundo o jornalista, o documento diz:


Natal, 30 de novembro de 2009.


Em resposta à solicitação da Promotoria de Justiça e Defesa da Saúde Pública e
da Secretaria Estadual de Saúde Pública do Rio Grande do Norte, para um parecer técnico sobre os riscos da realização do Carnatal em relação à pandemia de Influenza A
H1N1, a Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia (SRNI) reuniu-se às 17 horas
do dia 29 de novembro de 2009 e deliberou o seguinte documento:

Considerando o crescente número de casos graves e óbitos em âmbito regional a partir da semana epidemiológica 41 de 2009;

Considerando que muitos dos casos graves necessitam de assistência ventilatória e, consequentemente, internação em leitos de Unidades de Terapia Intensiva;

Considerando que todos os casos internados devem ter isolamento respiratório,
em quartos privativos, com vedação de portas, boa ventilação e, preferencialmente, com pressão negativa;

Considerando que a disponibilidade dos leitos supracitados é insuficiente para
atender a demanda atual e, portanto, não daria suporte a um aumento do número de casos;

Considerando que toda aglomeração humana é propícia para disseminação das
doenças de transmissão aérea;

Considerando que não há recomendação para o uso de máscaras em ambientes
abertos;

Considerando que o número de casos confirmados são referentes aos de maior
gravidade, já que não são realizados exames confirmatórios dos indivíduos sem critérios de gravidade e que, sendo assim, não sabemos a real taxa de ataque do vírus;
Considerando que o período de transmissibilidade da doença se inicia um dia
antes dos primeiros sintomas e persiste até o sétimo dia;

Considerando que a aplicação da vacina em massa é a mais eficaz forma de
prevenir o avanço da pandemia;

Considerando que todos os pontos levantados neste documento são condizentes
com as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde, emitimos o seguinte parecer:

A realização do evento denominado Carnatal pode aumentar consideravelmente
o número de casos, assim como qualquer outra forma de aglomeração humana. Pelo
mecanismo de transmissão da doença, espera-se que o risco seja diretamente
proporcional à intensidade da aglomeração.

A rede assistencial do Rio Grande Norte é deficiente e necessita de melhorias
para atender a demanda atual, podendo a situação se agravar substancialmente com uma
possível elevação da incidência de doentes graves.

É essencial que os gestores locais adquiram vacina para proteger a população do RN imediatamente, pois o período anual de incidência da influenza sazonal local, difere das regiões Sul e Sudeste do país. Enquanto nessas regiões as vacinas poderão ser aplicadas em março ou abril de 2010, no nordeste brasileiro deveríamos ter iniciado a campanha vacinal em outubro.

Recomendamos ainda, que haja veiculação em massa nos meios de comunicação (tv, rádio, jornal, outdoor, etc), sobre as medidas de prevenção da Gripe.

Certos de estarmos cumprindo com nosso dever social, reiteramos a disposição
da Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia em contribuir para os
esclarecimentos julgados necessários.
Atenciosamente,
Hênio Godeiro Lacerda
Presidente da SRNI

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