quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Foto: http://veja.abril.com.br/130900/imagens/veja_essa1.jpg
A mulher como fêmea lasciva
Emanoel Barreto

A modelo Joana Prado, que viveu a Feiticeira na Band, não deixou que um programa exibido em Fortaleza (CE) mostrasse vídeos seus como a personagem ou imagens do ensaio que fez para a revista "Playboy". Joana, que participava do programa ao lado do marido, Vitor Belfort, disse que se sentia mal vendo imagens da época.

"Eu me sinto constrangida quando me vejo dançando porque minha história hoje em dia é totalmente diferente. (...) Se vocês pudessem me respeitar eu gostaria que não mostrassem imagem de Feiticeira ou foto de 'Playboy' porque eu vou me sentir mal", disse a modelo, com a voz embargada, ao apresentador João Inácio, da TV Diário.

Joana falou sobre o seu passado após o apresentador explicar à plateia que uma parte do programa havia sido cancelada a pedido da modelo. "Eu achei que já tinha sido feito um acerto entre a produção e vocês, mas como não houve..."

"Eu tenho coisas mais legais pra falar. Eu tenho três filhos e eu não quero que a referência deles seja essa. Outro dia meu filho falou pra mim: 'Ah mamãe, você dançava de biquíni.' Eu falei, 'eu dançava filho, mas hoje em dia a mamãe vive outra história'", disse Joana.

Na entrevista, Joana ainda disse que a "Casa dos Artistas", reality show do SBT, foi um marco em sua vida. "Foi um momento em que as pessoas puderam ver a Joana pessoa. Eu não ganhei o prêmio de R$ 1 milhão, mas ganhei um prêmio muito maior, que foi esse reconhecimento das pessoas."
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O texto acima é da Folha Ilustrada Online. A personagem da notícia bem poderia ser enquadrada naquele estilo de Nelson Rodrigues de "meu passado me condena". Esse seria o óbvio ululante, do mesno Nelson. Contudo, reconfigurando o olhar sobre a ex-Feiticeira, o que temos? Encontramos um ser humano que em período de juventude, por imaturidade e alienação, deixou-se manipular pela indústria cultural, exibindo sua condição de mulher reduzida ao comportamento de fêmea lasciva.

Hoje como modelo, e apesar do olhar compreensivo, podemos encontrar no seu discurso, de alguma forma, o mesmo discurso dos que pensam pela fórmula meu passado me condena. A repulsa ao que foi, pelo menos ao que fez, é a exposição da vergonha do ser na TV Diário, uma emissora que explora as mais baixas e degradantes filigranas da condição humana.

As atitudes do passado repercutem no presente, e tudo o que fomos ou fizemos é vívido em algum momento do futuro. Não há como escapar. Nosso passado, assim como a sombra, caminha ao nosso lado. Podemos fugir de muitas coisas. Da nossa sombra, não. Mas, não temos culpa de ter uma sombra...


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