sábado, 3 de outubro de 2009

Foto: Estadão
A Olimpíada, o pão e o circo
Emanoel Barreto

Confesso, gostaria de compartir da alegria que pulsa em milhões de corações. Confesso, estou mesmo um pouquinho feliz, pela Olimpíada de 2016. Afinal, como Deus, só que eu pecador, também sou brasileiro. Mas essa pequena réstia de felicidade, esse pontinho de luz que se acendeu em mim, não é suficiente para fazer-me ingressar sem pensar na grande multidão em festa em que o Brasil se tornou.

Pense comigo: seria preciso virem para o país os jogos olímpicos, para que, no Rio, venham a ser feitas as obras prometidas em função da Olimpíada? Será que o povo carioca não seria merecedor de tudo o que está previsto em termos de infra-estrutura e melhoria de qualidade de vida naquela ilustre cidade?

O povo brasileiro vai pagar 28 bilhões para ter direito à festa, ao circo. E o pão social, aquele pão histórico de justiça social, promoção humana, distribuição justa de renda, escola, segurança e respeito ao homem, a democracia social, onde ficam?

Alguém será bastante tolo para não perceber que, por trás dos jogos, há todo um esquema voltado ao lucro; que o Estado será o grande financiador de tudo? O país passa por um momento auspicioso, é verdade.

A economia está equilibrada, a crise não nos triturou, veio o pré-sal e o clima social, de forma epidérmica, dá a entender que estamos no melhor dos mundos. Mas, não é verdade. Temos gandes e graves problemas estruturais. No Rio aflora um deles, a barbaridade do crime nas ruas indica que, dos bolsões de probreza em suas favelas, nascerão mais e mais crianças e jovens que terão no crime sua forma de participar do mundo. Fiquemos por aqui. É só a ponta do iceberg.

Depois, que venham os jogos. Teremos circo. Mas o pão, pão social, este será destinado a poucos.


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