sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Ribeira e os loucos intermitentes
Emanoel Barreto

Havia na Ribeira uma louca. Negra e muda, ela caminhava pelo bairro, perdida de si. Ela e outros personagens, que não sei para onde foram. Como um outro, que construiu para si um amontoado de tábuas, um labirinto de restos de construções, que a muito custo de equilibrava. Que lhe servia de morada e púlpito, de onde fazia estranhas pregações.
Não sei a quem se dirigia, talvez ao mundo todo, a advertir desgraças e administrar conselhos e crenças. Muitas vezes o vi, pertinho da Tribuna do Norte, a voz em alerta, os braços em gestos largos, em seu teatro fantástico e trágico.
Havia também um cego, que andava depressa, um braço tocando as paredes que lhe davam rumo, enquanto seguia em seu labirinto escuro pelas ruas da vida. E um outro, uma espécie de desocupado caminhante, que a todo custo tentava vender às pessoas revistas velhíssimas. Talvez a nos chamar a viver permanentemente o passado ali retratado, e como a dizer: "Leiam, os males que estão aí não valem mais. Do mesmo modo como valem pouco as coisas que hoje vivemos e que nos apavoram."

A Ribeira é um velho bairro de sombras. Onde a saudade anda vestida de farrapos.

ZOORÓSCOPO

VAGALUME - É o zoosigno dos poetas e outros sublimes sem-juízo. Anda para lá e para cá e sua pobre luz não é suficiente para acender nas almas duras algum sentimento. Mas, seguem. E vivem plenamente sua loucura raspando de faíscas breves o peso da noite.



Nenhum comentário: