segunda-feira, 21 de setembro de 2009

OBRIGATORIEDADE DO SILÊNCIO
--- Walter Medeiros Filho*

Começava em 1994 a saga da série juvenil “Malhação”, com historinhas que agradavam aos jovens e aos pais dos adolescentes. Os temas abordados eram diversos e tratavam de assuntos cotidianos da vida das famílias brasileiras, assim como ajudava em temas polêmicos na construção do caráter e da boa índole, como dependência química e doenças sexualmente transmissíveis. Guardo ainda as lembranças de anos não muito distantes, de quando meu pai assistia à série, por ter interesse em temas relacionados ao alcoolismo.

Hoje, o seriado não passa de uma mera “novelinha”, apenas um programa de entrada para as diversas novelas da Rede Globo de televisão. O programa não trata mais de temas interessantes, mas sim, de problemas inerentes à vida de quaisquer grupinhos de jovens com desvio de conduta: tramas para ver um colega preso, gravidez forjada para evitar uma separação – ou para fazer voltar atrás dela, “filhinhos de papai” tendo seus comportamentos apoiados pelos pais que não dão boa educação etc.

Infelizmente, estes problemas retratados pela Malhação existem na sociedade, e o ponto chave da questão é: o programa se passa em um colégio, e neste não há respeito algum pelos Professores e Mestres. Este problema está presente em todos os tipos de instituições, desde escolas públicas – onde alunos usam drogas ou levam armas para dentro de sala de aula, até escolas particulares – onde se imagina que haja um controle mais rigoroso, mas é o local onde se verifica o maior índice de descontrole por parte dos pais, que em matéria de “limites”, tiram zero!

Hoje a profissão de professor deveria ser coberta por um gordo adicional de insalubridade – salas sujas, barulhentas e recheadas de falta de respeito fazem mal à saúde; acho que é a posição mais perigosa da sociedade e que é a mais propensa a infartos e acidentes vasculares cerebrais decorrentes do estresse. É um trabalho extremamente árduo, visto que ninguém gosta de falar só. E é isso o que acontece: professores falam para platéias voltadas para a mais nova “resenha” da hora ou para o mais novo modelo de tênis lançado ou, ainda, para o local da festa do próximo final de semana.

O que fazer para solucionar um problema desta magnitude? Falar com a direção do colégio ou instituição não resolve, garanto! Tenho experiência em colégio particular, apenas, e posso garantir que o interesse que rege instituições deste tipo é o lucro gerado pelos pais dos alunos no final de cada mês, com o pagamento de mensalidades cada vez mais caras. É a obrigatoriedade do silêncio. Passei também três anos de minha vida em cursos pré-vestibulares e posso afirmar que, como querem, alunos saem ou entram nas salas de aula para o que quer que seja, sem o famoso “professor posso ir tomar água?”. Os professores para a maioria dos alunos, neste tipo de ambiente, são meros empregados assalariados, que têm que deixar os seus “patrões” saírem na hora que eles quiserem.

Não há, para os professores, como serem ouvidos nestas instituições – ambas particulares. No caso de públicas, a situação é ainda pior. Famosos são os relatos de professores que são obrigados a trabalhar sob a ameaça da presença de armas de fogo em sala de aula, e que convivem com alunos que além de não prestarem atenção ao que dizem, usam drogas em sala – reina a impunidade no Brasil. Este Brasil que vive numa sociedade acuada, com medo de dizer a verdade e de ser repreendida por aqueles que mandam – verdadeiramente – nas pessoas, os criminosos. Mas, para não me alongar no assunto, quero dizer que não há como os profissionais reclamarem estas condições de trabalho, pois polícia e sociedade sabem os focos do problema, mas nada podem fazer. Ou se podem, não fazem.

Como defender os direitos de uma profissão como a de Professor, uma posição tão nobre, importante e imprescindível para todas as pessoas? Quem consegue ter um pouco de dignidade na vida sem passar por uma sala de aula, e pelo aprendizado com estes mestres que têm como trabalho o fornecimento do único bem que não é possível que roubem de nós: o conhecimento? A importância dessas pessoas na vida da sociedade é inegável. Mas, as más condições de trabalho, e de salários também, estão tornando a profissão algo não mais desejado. Hoje é necessário que o Governo Federal lance na TV propagandas que incentivem pessoas a buscarem esta vida profissional.

Porém, como pessoas vão ter interesse se não há respeito!? A mais nova sensação da internet, no sítio dos desocupados – Youtube, é uma banda que faz danças em que o vocalista levanta a saia das mulheres para mostrar suas calcinhas. Esta banda fez vítima em vídeo que foi veiculado na internet, uma mulher que trabalhava como professora e perdeu o emprego pela dança. Hoje a banda contratou a dita cuja, que faz performances em palcos do Brasil “fantasiada” de professora. Quem tomou providências contra isto? As autoridades proibiram a banda de usar a imagem de uma professora que dança e mostra a calcinha? E as crianças que recebiam aulas desta pessoa que agora vende sua imagem, como ficam? Não há respeito pelo Professor no Brasil.
A única arma para categorias de trabalhadores termina sendo as greves. Então, sindicatos organizados vão às ruas reclamar melhores salários e condições de trabalho. Resultado: são mal interpretados pela população, e não atendidos pelo poder público. Em resumo vê-se: professores, quando não são os próprios donos do colégio, sofrem para serem ouvidos. E o pior, não é só pelos alunos.
* Estudante universitário do Instituto Federal do Rio Grande do Norte

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