Tem portuguesa no samba
Emanoel Barreto
Descobri ontem por acaso, na RTP Internacional, que Portugal também tem carnaval. Rima pobre à parte, é isso: tem escolas de samba e desfile na Ilha da Madeira, ou Madaira, como eles dizem por lá.
Uma das escolas chama-se "Os Cariocas" e apresentava um desfile esforçado que só ele, mas faltava a força dos orixás, o sangue negro chamando as raízes mais ancestrais da noite mais profunda da África, tambores, braseiro e fogueira.
O mais interessante é que as escolas tinham sambistas e samba-enredo de verdade. Pareceu-me que eles contratam bambas do Rio para preparar a escola. Uma agremiação tinha música de Iveten Sangalo fazendo as vezes de semba-enredo.
As portuguesinhas, tão bonitinhas, eram menininhas disciplinadas e tentavam, mas tentavam mesmo, fazer de conta que sambavam. Umas até buscavam aqueles passos em que a cabrocha se transforma em jóia-mulher de irrelutável beleza. Tadinhas...
Mas, gostei. Gostei de ver nossa cultura chegando aos nossos avós, que por instantes trocam as chorosas guitarras do fado pela força trigueira do tambor.
Sabe o que faltava aos patrícios? Faltava efusão, festa, brilho, intensidade, grandeza. Que vão passar, eu sei. Mas que de alguma forma ressalta, nesse tipo de ópera popular, o grande mistério de ser Brasil. Axé babá, meu pai!
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