terça-feira, 8 de abril de 2008

Aquela coisa que se chama morte

Caros Amigos,
A morte da menina Isabella, cujo anúncio e ênfase pelas coisas de jornal causa comoção a todo o País, leva a uma indagação: por que isso? Por que surge esse sentimento coletivo de pasmo, deprimente perplexidade, uma espécie de caos emocional que enche de vazio a alma? Por que esse grito no olhar, quando se vêem as manchetes?

A explicação: um psiquiatra disse na TV que esse tipo de ocorrência é chamada de crime inusitado, ou seja: uma ação infracional que atinge fundamente, além da pessoa vitimada, poderosos e antigos sentimentos, convicções arraigadas geração a geração e que, mesmo com as admissíveis mudanças sociais, permanecem ainda como valores fundamentais. Pelo menos foi isso o que entendi.

E o que foi atingido, quando alguém praticou o crime? Atingiu-se, na essência, essa coisa a que chamamos lar; aquela unidade familial que encerra e emana carinho, proteção, aconchego, intimidade, conforto, paz, menininhas dormindo no silêncio da noite calma. E, sendo o ataque à criança praticado sob o teto de um lar, onde a liturgia do amor e da comunhão se faz todos os dias, ou pelo menos se deveria fazer, agrediu-se de maneira incomum, esmerilhadamente cruel, a infância, a vida, o respeito ao lar. Houve, para o inconsciente coletivo, um sacrilégio, uma violação, uma profanação.

É por isso que, até mesmo estimulada pelas coisas de jornal, as pessoas esperam que se descubra quem matou a menina Isabella. E, como diziam as mulheres antigas, rezando seu terço ao entardecer e olhando ao longe o sol que se punha, "cada um que reze para que isso não venha a lhe acontecer." É o ser humano, pequeno e pobre, temendo que venham da vida, para lhe atacar, terrores e medos, aquele frio que arrepia e aquela coisa que se chama morte.

Emanoel Barreto
Foto: Agência Estado - Aledandre Nardonni e Ana Carolina, pai e madastra de Isabella.

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