Caros Amigos,
Aristóteles ensinava que "o homem é um animal político", ou seja: habitava a pólis, a cidade-estado grega e, imerso nessa realidade, suas atividades eram "políticas" na medida em que, como cidadão, ele participasse das decisões debatidas na ágora, a praça pública. Detalhe: cidadão era apenas o homem livre, senhor de terras e da casa, sobre as quais exercia sua autoridade. Mulheres, crianças ou jovens, e escravos, além de estrangeiros, claro, estavam fora desse conceito de cidadania.
Pois muito bem. Chegado aos tempos de hoje em dia, política é coisa bem diferente e, de alguma forma, todos sabemos o que ela seja. Não é o caso de, aqui, serem discutidos extensos rasgos teóricos, conceituais ou ideológicos. Só para não deixar a coisa em branco, podemos dizer que política é a luta pelo poder estatal e a busca, por um homem ou grupo de homens, de ali permanecer, exercendo o governo. Pronto.
Outro detalhe: o animal político, o bicho político, é esperto como ele só. De esperto, passa a ser experto. No contato com os jornalistas, com o tempo aprende a emitir comportamentos que terão valor de notícia e, assim, rapidamente, se mimetiza aos tipos noticiosos e enquadramentos que os jornalistas acionam para dar destaque a um fato.
Na foto do presidente Lula, temos um exemplo clássico, típico, infalível, de comportamento que chama a atenção dos repórteres. Ele sabia que, agindo do modo como agiu. Estava em Dianópolis, Goiás e falaria para cerca de quatro mil pessoas, durante cerimônia realizada num projeto de irrigação.
Então, eis que surge aquele obstáculo arquitetônico e ele, pá!, não perdeu a oportunidade: passou por baixo, numa posição inenerravelmente difícil, para chamar a atenção. Mas, isso não é uma culpa: é um hábito. Não é de hoje que os políticos põem criancinhas no colo, andam de braços dados com jogadores famosos ou vão até favelas "inspecionar" obras de urbanização.
Faz parte do espetáculo da política e do espetáculo do jornalismo. Trata-se, no final, de uma distorção: aquilo que deveria ser informação, pelo inusitado, pelo inesperado, tornou-se em técnica de marketing, que no final de contas o jornalismo absorva porque, ao fim e ao cabo, não deixa de ser notícia.
Emanoel Barreto
Foto: Ed Ferreira/AE
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