Caras e Caros,
As TVs estão espremendo, até à última gota, o terrificante espetáculo por elas mesmas criados, com a morte da menina Eloá. Nenhum jornalista chegou ao pódio dos monitores para analisar seu papel, sua participação, sua presença para a deflagração das balas que tiraram a vida inocente.
Foi a TV, sim, quem disparou o revólver do criminoso. A polícia, permitam-me, falhou miseravelmente. Falhou ao permitir o retorno da segunda menina ao apartamento, falhou em suas técnicas de negociação. Mas foi a TV quem patrocinou a realização daquele reality show, hediondo e imoral.
Se o carrasco não tivesse se sentido como prima donna daquele circo de crueldade, se não tivesse dado entrevistas ao vivo, se não houvesse sido chamado de apenas um jovem apaixonado, trabalhador e calmo, certamente não teria prolongado até o limite do insustentável aquele funesto acontecimento.
Precisa a polícia brasileira aprimorar seus métodos táticos para enfrentar situações como aquela; precisa a TV admitir-se como terceiro ator, deplorável, indecoroso e sujo, de tudo o que aconteceu.
Emanoel Barreto
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