sexta-feira, 11 de julho de 2008

O povo estropiado e os ricos descontentes

Caras Amigas,
Caros Amigos,
O recente episódio da prisão de três ilustres apropriadores das coisas do povo trouxe a público algo até então, para mim, apenas latente: o poderoso sistema de proteção que a elite estabelece para si, cobrando da polícia tratamento especial para os criminosos, digamos.., de classe...

Vocês entendem o que quero dizer...

No senado, enquanto o senador Pedro Simon erguia sua ira santa contra os criminosos e defendia que eles deviam, sim, ser algemados no momento da prisão, o senador Arthur Virgílio dizia que não, que as algemas eram desnecessárias e que houvera espetacularismo da Polícia Federal ao permitir que fossem gravadas as cenas da captura dos procurados.

Virgílio, não tenho dúvida, era movido pelo sentimento de solidariedade de classe. Nada pior para alguém da elite que ver um seu igual atirado ao laço da polícia e aparecer não na coluna social, mas no jornalismo que denuncia a ocorrência de crimes e os seus fautores.

Jamais vi o senador lamentar que algum pobre tenha sido preso sob as lentes das câmeras; e isso ocorre todo dia. As elites até aceitam ter alguns dos seus capturados: mas com elegância, tremiliques, discrição e charme. A Polícia Federal, portanto, precisa é de savoir faire, luvas de pelica, gestos delicados. Xá pra a escola de boas maneiras, seus policiais malvados!!!

Imagine, um ricaço ser preso sob o alarde da populaça. É algo inaceitável. Afinal, ele não matou, não estuprou, não torturou, não esganou; não tem as mãos, como se dizia antigamente, tintas de sangue. Seu crime é branco, alvo como os papéis onde redige seus mandados secretos e viscosos.

E quando o rico patife é trazido à luz, quer agir como os vampiros: ocultar-se depressa, para não morrer. De vergonha não é, pois não a tem; mas para escapar do brilho que lhe ilumina a cara, que queria ter sempre em meio às sombras tão amigas.
Emanoel Barreto
Ia esquecendo: a foto é para mostrar o resultado da corrupção: os pés estropiados do povo, que somente vê na cadeia um outro pobre; e não encontra, entre os presos, aqueles que bebem os crimes em goles de champanhe.

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