domingo, 27 de abril de 2008

Uma lágrima pela menina morta

Caros Amigos,
A lembrança triste da menina morta
ecoa como som de sino que bate numa noite eterna.

Espiões malignos lhe relembram o nome
e fazem um festim estranho,
espetáculo escuro na tela da TV.

As lágrimas histéricas, o alvoroço, os gritos,
seguem em procissão sombria.
A dor transformada em audiência.

A lembrança triste da menina morta
agora é curiosidade mórbida,
escancarado préstito, patíbulo de trevas.

Não há mais o que dizer: tudo já se sabe,
mas querem o detalhe deplorável,
o cantar mais horrendo
das megeras carpideiras.

É tempo de parar. É tempo.
Mas ainda se deseja mais.
A multidão é o arauto desabrido
de tanta curiosidade louca.

É tempo de parar. É tempo.
Que não se aceite esse regougar, agouro.
Que se acenda, em lugar disso, pelo menos,
a vela de uma lágrima sincera
pelo fim dessa menina morta.
Emanoel Barreto

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