sexta-feira, 25 de abril de 2008

De como bebi uísque com Canhoto da Paraíba no palco de um teatro, foi no Alberto Maranhão

Caros Amigos,
A morte de Canhoto da Paraíba, além de marcar o início de uma saudade bem brasileira, nordestinamente inteira, feita por sina, e por fado, me relembra de uma coisa que aconteceu em Natal: ele ia se apresentar no Alberto Maranhão e eu estava por lá. Pois então, quando cheguei, já muita gente havia; teatro quase lotado, e um rapaz me abordou: "Você é Emanoel Barreto, que escreve no jornal?"

Eu lhe respondi que sim e ele me convidou: "Aceita ficar no palco, ao lado do tocador? Vamos botar umas mesas, é como se fosse um bar. Conhoto fica tocando, você e os outros bebem, o garçom fica servindo, é festa para arrombar."

Aceitei na mesma hora; fui levado lá pra cima, fiquei numa mesa boa; Canhoto virou o mundo nas cordas do violão. Mestre feito e engenhoso, gênio limpo, gesto claro, Canhoto - casa lotada - derramava até ao chão, um mar de acordes perfeitos.

Só não gostei de uma coisa: quando eu ia me animando, eu e meus companheiros, uísque de copo cheio, chegou ao fim o espetáculo; terminava o show de Canhoto, mestre sem par nem parelha, tocador de regra inteira, do tamanho de um trovão.

E agora, no jornal, vem a nota triste e fala, e diz que ele morreu. Morreu nada, só partiu. Depois, um dia ele volta. Volta em cada violão, em cada acorde fechado, no sentimento alargado, tocando o mundo virado, como virava o violão.
Emanoel Barreto

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