quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Ela não é Flowers que se cheire

Caros Amigos,
As coisas de jornal anunciam que uma cantora da cabaré, Gennifer Flowers, está levando a, digamos, leilão, fitas com gravações de conversas com o ex-presidente Bill Clinton, dos tempos em que ele era seu amante. À época, ele era governador do Arkansas. As fitas foram gravadas secretamente e em 1990 um colecionador japonês, dizem ainda as coisas de jornal, chegou a oferecer cinco milhões de dólares pelo material.

Trata-se, obviamente, de uma trapaça política das mais sujas, praticada exatamente quando a mulher de Bill, Hillary Clinton, enfrenta o senador Barack Obama, na busca de sua indicação como candidata à presidência dos EUA como representante dos democratas. Hillary, por sua vez, também pega pesado com Obama, que a acusa de ter divulgado fotos suas vestidos com trajes típicos da Somália, onde o senador tem suas origens, com raízes muçulmanas.

Como se vê, o ofidiário está cheio. Mas, o caso com Flowers é provavelmente o que expõe a indignidade humana em sua forma mais deplorável. Uma mulher, envolvida com um homem que ocupa posição de destaque na política, trama o uso futuro dessa relação como meio de ganhar dinheiro, muito dinheiro.

Sabe-se que faz parte das hipocrisias norte-americanas, que é tabu, a infidelidade conjugal. Ou seja: desde que fiquem ocultas, podem ocorrer. Gennifer, que não é Flowers que se cheire, esperou esses anos todos, até agora, quando trouxe à tona as gravações. O escândalo político, certamente espera, fará aquecer a temperatura eleitoral, dando preço ao seu produto.

Trata-se, a venda das fitas, de um discurso complicado, esquizofrênico. Vejam só: Flowers põe as fitas ao mercado, esperando que algum sujeito doentio as compre, só para ouvir conversas entre dois amantes; com isso, ela quer dizer que Bill Clinton não presta, pois traiu a mulher; e a traiu com uma cantora de cabaré - e quem era a cantora da cabaré? Ela mesma, Flowers; ou seja: um governador desrespeita seu cargo e sua família com uma mulher de cabaré; afinal, essa mesma cantora vem a público e expõe à respeitável família americana a rosa rubra da indignidade, como que num processo de redenção às avessas: ele era o governador, eu fazia o meu papel. Ele deveria se respeitar, não eu, que era uma mulher de cabaré.

Ela mesma é invadida pelo discurso do establishment e agora o usa para ganhar dinheiro. Encerrando: diz-me com quem andas, que dir-te-ei quem és. E Hillary, que já havia suportado o furacão Lewinski, agora está às voltas com uma Flowers que não se cheira.
Emanoel Barreto
Fonte da foto: Reuters/ Arquivo

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