terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Adios, Comandante...



Caros Amigos,

A renúncia de Fidel à presidência de Cuba coincide com a entropia do tempo. Ele sucumbe à condição humana, ao desgaste inexorável que corpo e mente são submetidos ao longo de nosso percurso neste planeta.Paralelamente a isso, o mundo mantinha seu processo de mudança: caía o Muro de Berlim; Moscou seguiu na derribada; a China introduzia novas facetas em seu socialismo oportunista e opressor; psicopatas como Pol Pot, no Camboja, iam à dèbâcle; Enver Hoxa e os Ceaucescu foram expurgados pela história. A Coréia do Norte é a Coréia do Norte. Ou seja, o socialismo, ou comunismo, como queiram, revelava sua inviabilidade - pelo menos na práxis que assumiu.

Cuba, ao lado do Grande Irmão, sofreu um brutal processo de estrangulamento econômico, cujas repercussões históricas impediram, disso não resta dúvida, o desenvolvimento de sua economia. Mesmo assim, em aspectos como educação básica e atenção à saúde, a ilha atende bem ao seu povo.

Não tenho qualquer simpatia por ditaduras, mas suponho que, não fora o garroteamento dos cubanos pelos americanos e países centrais europeus, a realiade sócio-econômica, lá, seria outra. Aquele povo demonstrou, no mínimo, capacidade de resistir; e resistir com dignidade.

Claro que, com a saída de Fidel haverá mudanças: primeiro, ele deixa a presidência para assumir a condição de mito, lenda viva cercada pela aura de ser o grande líder e o maior do povo. Morto, estará elevado ao panteão do socialialismso cubano, ao lado de Che e de Camilo Cienfuegos. Enquanto isso, os EUA estarão em compasso de espera, aguardando, em esquina lúgubre, a sua morte.

Seu substituto deverá estar pronto para as mudanças históricas que virão. Agora, e quando Fidel calar para sempre. O sonho do socialismo, que embalou a minha geração, deixou-nos cara a cara com aquilo que a hipocrisia de muitos hoje chama de socialismo real. Ou seja: deu no que deu e ainda não se quer admitir que fracassou. Pelo menos, nesta quadra da história e da maneira como o socialismo foi levado a efeito. Do outro lado, o capitalismo atroz comemora sua suposta vitória e diz que passou o tempo de se lutar por um sistema mais justo. Mas sei que liberdade vai muito além de ter direito a comprar uma TV digital.

Vejamos o tempo passar. O império do tempo nos dará a resposta, algum dia. Aguardemos.

Emanoel Barreto

Foto: Américo Vermelho-30.jun.1999/Folha Imagem

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