quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Um ciúme muçulmano

Tinha da Mulher um ciúme muçulmano. Um ciúme feito de lençol. Fino e enlaçante como um abraço no silêncio cúmplice da noite. Noite de largo plenilúnio. Um ciúme delicado, tecido ao longo das páginas de um pergaminho construído de tempo. Tinha da Mulher um ciúme muçulmano. Daqueles que são feitos de aparições contínuas. Um ciúme namorado, diferente, protetor como uma tenda. Oásis.

Tinha da Mulher um ciúme muçulmano. Um ciúme que não segue os passos, porque já conhece e confia em todos os caminhos. Às vezes ficava parado, sentado à sombra de uma palmeira marroquina, observando o caminhar das caravanas que seguem caminhos feitos de distante.

A Mulher era feita de princesa e paz, gestos no ar fino da manhã de aurora. Depois, Ela se compunha, feita de acordes. Acordes em perfeito maior. O estranho naquele Casal era o seu silêncio calmo. Um silêncio que seguia sempre. E surgia nas curvas da vida como um momento que não tem minutos, como um instante que não tem segundos. A pausa do violino que espera um lá. Gesto de maestro que virou semínimas.

Para o Casal o tempo não passava, pois seu todo tempo era eternidade e eternidade é um tempo sem fim. Como nave grega que procura Ítaca. A Mulher, menina, estava companheira. Fazia-se de tarde, quando se queria noite; sentia-se manhã, quando se queria dia. Um dia inteiro, permanente instante. E o sol, amigo, só tinha estrelas. Como se fosse lua, crisálida de luar.
Emanoel Barreto

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