quarta-feira, 16 de maio de 2007

Lá vem Mr. Dollar descendo a ladeira

Contingências internacionais, algum equilíbrio interno, enfim, um momento econômico mundial propício, é o dólar está caindo. Setores da economia comemoram. Saindo dessa coisa puramente econômica, lembro que Morais Moreira tem uma composição que diz "Lá vem o Brasil descendo a ladeira".

Refere-se aos moradores de morros, sambistas, gente do povo, trabalhadores e equilibristas que descem ao asfalto para dizer: "Estou aqui, existo, logo penso." A metáfora do compositor baiano alude à presença das gentes discriminadas, descendo a ladeira em procissão, digamos, sócio-hedonística, para fazer música e dizer que não aceita ficar calada.

Com a queda do dólar, vamos imaginá-lo como um americano bêbado, que subiu à favela, embriagou-se, se deu mal e agora vem, aos trancos e barrancos, caindo, falando seu idioma enrolado, sem saber o que fazer.

"Lá vem Mr. Dollar, descendo a ladeira!", gritam os moleques. Ele tenta se aproximar da uma cabrocha cheia de dengos no samba, tropeça e cai, para alegria da multidão, os apupos e a grita geral: "Tem nego bebo aí! Tem nego bebo aí!"

A queda do dólar, que é flutuante, está ao sabor do momento. Seria bom que a ela se somasse efetivamente uma tomada de crescimento sólida, firme, direcionada, para tirar esse País do pé da ladeira e levá-lo lá para o alto, transformando-se as favelas em Olimpos de resistência, cidadania e coragem para o futuro.

Mas, como isso está muito difícil, vamos imaginar esse Mr. Dollar bêbado e levando pernadas no meio da multidão.

Um comentário:

Anônimo disse...

adooorei o texto, especialmente o título! muito bom.