domingo, 18 de março de 2007

Vidas que se apagam

Certa vez li, em jornal, crônica que se remetia à vida de um velho cronista que, por sua vez, em crônica, lamentara o esmaecimento da beleza das moças do seu tempo. E dizia como era triste,frio como uma tarde velha, ver aquelas mulheres, outrora moças tão lindas, mirradas, desbotadas, fenecendo.

Sofria especialmente por uma delas, a que fora sua grande paixão juvenil, sucumbir acossada pelo tempo, esgarçando a beleza antiga em rugas, desmanchando-se aos poucos em morte lenta, dissolvendo a vida pingo a pingo.

Não li o texto do velho cronista, homem que viveu nos tempos de Bilac, das valsinhas, sonetos fechados com chave-de-ouro, serenatas e suspiros de meiga ansiedade: romance. Li o texto que falava sobre o texto.

Não lamento as mulheres que envelhecem, a beleza que murcha, se encolhe e cai. Não lamento os homens que se encurvam, ficam tristes e perdidos em seus desertos vazios, ocultos em cada um.

Homens e mulheres são e estão presos à condição humana; presos à vida como a ávore presa ao chão. Mas, se presa ao chão a árvore ganha vida, o homem, preso à vida, caminha depressa para o seu fim.

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