Hoje, trago um poema de Carlos Drummond de Andrade. Hoje, não quero falar das dissensões do mundo, dos miseráveis ódios do cotidiano, nenhum comentário sobre o motim dos controladores de vôo, ou as últimas indignidades dos políticos. Fiquemos com Drommond. É melhor assim. É bem melhor. Veja.
A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.
Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres
em mim ressuscitados.
Era Adão,primeiro gesto nu
ante a primeira negritude de corpo feminino.
Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.
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