sábado, 31 de março de 2007

A castidade com que abria as coxas

Hoje, trago um poema de Carlos Drummond de Andrade. Hoje, não quero falar das dissensões do mundo, dos miseráveis ódios do cotidiano, nenhum comentário sobre o motim dos controladores de vôo, ou as últimas indignidades dos políticos. Fiquemos com Drommond. É melhor assim. É bem melhor. Veja.

A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.

Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres
em mim ressuscitados.


Era Adão,primeiro gesto nu
ante a primeira negritude de corpo feminino.

Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.

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