segunda-feira, 12 de março de 2007

BBB: a humilhação como atração principal

A programação popularesca, vulgar, voltada para uma estética musical no mínino duvidosa; enfática na valoração da desonestidade como ordem instituída e vigorosa na exaltação da falta de ética como princípio para as relações humanas, tem pautado a TV brasileira, especialmente no que diz respeito a programas como os do Faustão e Big Brother Brasil.

Faustão, além do linguajar rasteiro, cheio de artimanhas verbais, está pronto para humilhar, a qualquer instante, quem lhe caia às maõs, para alguma "entrevista" - às vezes algum coitado, sem fama ou dinheiro, é chamdao ao palco para falar sobre alguma tolice.

O apresentador prima por salientar aspectos da vida em que alguém sempre sai perdendo, punido por uma exposição de mídia que atrai olhares e juízos de valor a respeito da vítima. Alguém termina sempre como culpado por ter sido submetido a algum vexame. E o público uiva, aplaudindo o infortúnio purgando, cada indivíduo, previamente, o medo de um dia ali estar, exposto e midiaticamente espancado.

O exemplo mais claro são as Cassetadas, em que pessoas são mostradas em situações ridículas, grvadas em vídeos caseiros. Faustão está fazendo a louvação de um relacionamento cotidiano baseado no deboche e na falta de respeito. Banaliza a dor e o sofrimento de quem é ofendido.

No que refere ao Big Brother, há o elogio à falta de escrúpulos, a reverência à desonestidade, a absolvição de qualquer culpa moral, tudo sob o pálio de que ali há uma "competição".

Competição que se apresenta às claras como um jogo sujo, um processo de ocultção dos verdadeiros interesses da Globo: lucrar a qualquer preço, retirar dinheiro de tolos que fazem ligações de celulares e aumentam em mais alguns milhões a fortuna do grupo Marinho.

E como as pessoas participam... Dão "opiniões", manifestam-se "indignação", "criticam", "falam" sobre as "qualidades" de indivíduos que participam de uma espécie de turnê da estupidez mas que, apesar disso, são capazes de mobilizar uma ponderável parcela da nação.

No fundo, de alguma maneira, todos sabem que estão vendo e sendo chamados a participar de uma grotesqueria, sabem que estão imersos numa encenação à qual todos se curvam de bom grado. As pessoas flutuam entre a realidade e a encenação dessa tragédia programada: o BBB levará alguém ao pódio da vitória do um milhão mas, antes, vai triturar os demais participantes.

O BBB é uma manifestação de que tipo de sociedade está sendo construída. Pessoas são humilhadas, levadas a fazer publicamente atos em que suas condições físicas e emocionais são levadas ao limite. Sua intimidade, também. Gente é açulada a agir de maneira sórdida e truculenta. O público é chamado a presenciar com prazer atos de degradação.

É o espetáculo da violência estetizada. A brutalidade, literalmente, como padrão global de qualidade.

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