sábado, 11 de março de 2006

Ciumenta

"O homem nasce nu, molhado
e faminto; o pior vem depois."
(De um velho filme de caubói que, um dia, assisti)


De Zilda Neves recebi a crônica que segue abaixo, "Ciumenta".

Ela tinha um gênio difícil; brigava por qualquer coisa e com todo mundo!
No condomínio onde morávamos, não tinha amigas nem vizinhos; todo mundo passava por ela, preferindo abaixar a cabeça, com medo de apenas, num cumprimento, ter seu dia estragado, por um simples "bom dia".


Fosse risonho e receptivo, imaginava o incauto pretendendo uma aproximação que ela repudiava, e aí estava formado o banzé: -Nunca me viu não? Questionava de chofre, não dando tempo ao atingido por um petardo oral inimaginável.

Depois de dar três passos e olhando para trás, se o infeliz ainda, aturdido, estivesse parado, descarregava a bateria:- Vai querer o quê? Tempo bastante para desistência do amável cidadão, disposto a não ser mais educado.

Ninguém entendia como o marido, se casados fossem, aturava aquela mulher! Só ele sabia.

Na cama, era uma candura de mulher; bastava tirar a camisola, vestia-se de fêmea, cobrindo seu corpo, com a sensibilidade do amor que pode mais que a razão, sendo impossível não ser do jeito que os outros, acreditem ela seja. Apenas eu!

O que todo mundo vê, não corresponde ao sentido interior, justificativa de um ciúme consumidor e quase sempre sabe mais que a verdade, fato bastante para fazer-me imaginar que a idéia de morrer sozinho é uma desgraça, e não posso correr o risco.

O ciúme é próprio de quem ama; ela jamais derramou uma lágrima fácil, quando, razões de seu coração era atingido. Preferia um esgar, disposta a uma refrega de conseqüência imprevisível, a secar uma gota, que as costas da mão pudessem enxugar.

Não partilhava seus segredos, nem contava aventuras contidas em sua vida: nem do corpo, nem da alma; parecia compreender já ter se dado conta, num passado remoto, serem impunes a um futuro que se avizinha, deixando entender ao companheiro, não esquecer - se a vida lhe for breve - onde enterrou seu segredo.

Porém, nem sempre foi assim; dotada de personalidade forte, guardava nas profundezas do seu ser, uma possessividade controlada, exacerbada com o passar dos anos e das imposições que a vida lhe ofereceu. Seus dotes físicos mostravam-lhe essa verdade, fato bastante para criar um quê de reserva, e uma visão ciumenta de si própria. Percebia olhares furtivos, ao cruzar com pensamentos menos nobres, onde seu atual companheiro, fora um deles.

A vida a dois, fortalece um permanente descobrir, no jogo do amor, permitindo reconhecer que as tentativas, embora frustradas, avolumavam-se no amiudar de se dar e que o tempo encarrega-se de contemplar desejos recônditos.
As primeiras insinuações pareciam ser vencidas com um argumento imaginado inquestionável: “Quer entrar, onde só deve sair”?


A contramão dos fatos, jogou por terra, outras virtudes mais fortes para o primeiro embate, ficando os anos como um aliado, no novo se entregar.
A soma, julgada perfeita, alicerçou um questionamento, onde o ciúme extrapolou de uma forma acintosa ao parceiro, mais ainda assim, dizia-se a mulher mais feliz do mundo!

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