quinta-feira, 23 de novembro de 2006

O cinismo e mais dinheiro para os senadores

Uma composição de Gonzaguinha, cujo título não recordo, dizia, ao longo dos seus versos :"Tudo vai bem/Tudo legal/Você merece/Você merece". Em suma, a letra fazia a sátira do cotidiano brasileiro: seu conformismo, sua capacidade de ingerir o amargo do dia-a-dia, de conviver em silêncio com a incompetência do seu sistema de poder e de curvar-se ante a opressão da insensibilidade de seus governantes.

Detalhava que você tem de viver toda essa situação "e dizer que não está preocupado". E por aí seguia. Vendo na TV o presidente do senad Renan Calheiros cinicamente dizer que colocará em pauta um brutal aumento para si e para seus pares "pois está apenas cumprindo a lei", que determina que uma legislatura programe para a próxima um aumento na remuneração dos senadores, veio-me à lembrança Gonzaguinha e seu langor satírico.

As elites brasileiras, em sua crueldade histórica dissimulada, e por isso mesmo requintada em termos de sofisticação e ocultação da brutalidade da má distribuição de renda, são assim: dizem-se falar como representantes do povo, quando em verdade defendem unicamente seus interesses. Mudam alguma coisa para que o essencial permaneça intocado.

Na obra Prismas,onde analisa questões culturais, filosóficas e de comunicação de massa, Theodor Adorno cita o filósofo Spengler, que dizia:"A entrada de um partido aristocrático no parlamento é alto intrinsecamente tão falso quanto a entrada de um partido proletário. Somente a burguesia se sente em casa no parlamento."

Qualquer semelhança com o caso brasileiro não é mera coincidência. Vou ficar por aqui. Nós meceremos. Nós merecemos.

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