sexta-feira, 24 de novembro de 2006

I'm singing in the rain

"SÃO PAULO - O estudante Takashi Matsumoto propôs uma invenção curiosa com um guarda-chuva que pode ser usado para navegar na Web ou acessar outros conteúdos. O chamado ´Pileus´ traz um projetor movido a bateria e um sensor de movimentos, que permite ao usuário alternar entre uma seqüência de fotos, por exemplo, com apenas um rápido movimento de pulso. O produto foi exibido nesta quinta-feira, 23, em uma feira de tecnologia em Tóquio. As imagens exibidas pelo aparelho podem ser baixadas da internet. Segundo a proposta do estudante, o Pileus pode ser usado para tirar fotos ou gravar vídeos, que também podem ser exibidos na sua parte interna."

O texto entre aspas foi publicado pelo Estadão on line. Aparentemente, trata-se da demonstração de criatividade de um gênio, conhecedor profundo dos segredos, caminhos e mistérios da informática. Tecnicamente, é verdade, trata-se de um gênio. Socialmente, entretanto, é preciso ter uma outra visão.

Qual a validade, qual a importância de se ter um guarda-chuva que nos permite acesso à internet? Alguém pode andar em meio a uma chuvarada vendo fotos e vídeos? Você se imagina, deslumbrado e louco, caminhando assim?

A invenção, ao invés de manifestar-se como algo maravilhoso, demonstrativo do engenho humano, termina por se revelar uma forma de como o pós-moderno está nos dominando; estamos sendo vividos por nossas próprias elucubrações e a elas temos que nos curvar. Quem não o fizer, estará fora, perdido num tempo atrasado.

Tal invento não é deslumbrante, antes seria aterrador. Uma antecipação do quanto o mercado pode nos impor necessidades inúteis, frivolidades sofisticadas, pinceladas magníficas de uma criatividade que nos faz cativos da banalidade imponente.

Suponho que o tal guarda-chuva não terá sucesso, nem suscitará maiores interesses, que não seja o da curiosidade pura e simples - graças. Mas é inegavelmente peça indicial do quanto ainda nos será imposto, seja através de celulares - hoje já bastante apetrechados de penduricalhos - seja mediante computadores e televisores digitais.

Gerenciando todo esse processo, uma máquina administrativa transnacional geradora e gerenciadora de grandes lucros. A insensatez, o consumismo, o devaneio garantem a esse mercado largo lastro para que continue a crescer.

Assim, em matéria de chuva, prefiro o velho Fred Astaire, tão antigo e tão sincero em seu magnífico Singing in the rain. Prefiro cantar na chuva a me cobrir com os toldos fictícios, que nos molham de cobiça pelo inútil para assim passarmos a viver em função de tudo o que é fútil.

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