segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Uma guerra de cuspe

"O brasileiro não está preparado para ser
"o maior do mundo" em coisa nenhuma.
Ser "o maior do mundo" em qualquer coisa,
mesmo em cuspe à distância,
implica uma grave,
pesada e sufocante responsabilidade."
Nelson Rodrigues

A frase de Nelson Rodrigues nos desnuda a preocupante condição de uma sociedade de conveniência. Coisas tipo jeitinho brasileiro, vâmo vê como é que dá, né? Isso, pelo menos, no que diz respeito às nossas autoridades. Ah, sim. Você tem acompanhado o noticiário a respeito dos atentados em São Paulo? Tem visto na TV postos policiais, bancos e ônibus incendiados? Tem? Creio que sim.

Mas, tem anotado alguma reação mais, digamos, firme, para não dizer viril, do governador tucano Cláudio Lembo, o Cláudio Lento, como diz o pessoal do Casseta e Planeta? Tem? Tem não. Tem não, porque o governador paulista está mais preocupado com as repercussões que uma ajuda federal teria sobre os números de Ibope de Geraldo Alckmin, favorecendo a candidatura Lula, do que com a vida e a integridade do povo da capital paulista.

E, o que é pior, o governo central, ao que parece, não aplica qualquer pressão sobre o Lento, temendo também que isso seja visto como intolerável intromissão ou intervenção, no sentido jurídico do termo, na vida e na cidadania dos paulistanos.

Simplificando, como disse Nelson Rodrigues, seria uma "grave, pesada e sufocante responsabilidade". E isso o pessoal do Poder não está disposto a encarar.

Sabe? Acho que, no fim, o PCC vai deixar tudo no "tá dominado! Tá tudo dominado!", e as autoridades vão disputar algum campeonado de cuspe à distância.

Nota do editor: Só para completar, uma espécie de metáfora ou o que seja, sobre o Brasil. Eu estava, há poucos dias, na irrrequieta companhia de minha neta, Eduarda, num shopping center em Natal. Chovia. Os carros que chegavam ao estacionamento, que fica no subsolo, deixavam cair pingos, que lembravam marcas de cuspe no chão. Ela virou-se para mim e advertiu: "Olha, Vô, cuspe. " Eu respondi que sim. E ela:"Vô, mais cuspe." E vendo mais e mais pingos no chão, avisou:"Cuspe, cuspe, cuspe." Afinal, sentenciou: "Vô, é muito cuspe. Tá havendo uma guerra de cuspe." Pronto. As autoridades brasileiras também estão pensando que, em São Paulo, está havendo, também, uma guerra de cuspe.

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