domingo, 6 de agosto de 2006

O político ganha votos, o produtor bovino perde dinheiro

Tanscrevo abaixo artigo de autoria do zootecnista Edgar Manso, publicada no Jornal de Hoje, Natal. Trata-se de assunto de gande importância, especialmente para quem conhece as dificuldades do criador nordestino.

Prezado Marcos Aurélio de Sá, parabéns pela sua matéria da sexta-feira.. Como sempre, você abordou com muita propriedade os problemas dos produtores locais de leite bovino . Como você escreveu, nesse ano de política todos falam sobre o "Programa do Leite", esquecendo os produtores que não participam do mesmo, estes representam cerca de 75% da produção potiguar.

Concordo quando você diz que o pagamento direto aos produtores não resolverá totalmente o problema, será bom, mas não o bastante.Eu, como zootecnista que sou, acho que o maior problema está na falta de assistência técnica ao produtor rural, esse é um problema do Brasil, não é só nosso não.

Em recente pesquisa que fiz, constatei que 40% dos produtores do Litoral Oriental, 75% dos produtores do Litoral Norte, 20% dos produtores do Seridó e 40% dos produtores da região de Mossoró não têm assistência técnica nenhuma, pública ou particular.A adoção de tecnologia no campo é inevitável; para isso é preciso investir em treinamento de pessoas. Investir na educação é prioridade.

O produtor está ansioso por novas técnicas, solicita ajuda de técnicos, quer trabalhar e produzir com qualidade. Brigar por melhores preços é importante, sem tirar o foco do problema principal que é o controle dos índices zootécnicos da propriedade.

Criaram o programa, melhoraram os preços, garantiram a compra, mas não ensinaram como produzir.A importância econômica e social do Programa do Leite é inegável. Em todo o Brasil o nosso modelo de programa social é copiado, mas ele tem falhas, é normal. Para resolver esse problema da falta de assistência técnica aos produtores, poderia ser criado um fundo de reserva visando custear uma equipe de profissionais das ciências agrárias para assistir à esses produtores.

De onde sairia esse dinheiro? Quem levaria vantagem com isso? Um produtor de leite que recebe a visita de um zootecnista regularmente tem a chance de monitorar com precisão todos os seus custos de produção, sendo assim pode focar as suas atenções nos setores mais deficitários do seu sistema de produção.

Adotando as técnicas de manejo nutricional, cuidados com a higiene e controle de custos, o produtor vai poder, aí sim, brigar por um preço mais justo, pois o seu produto estará com uma qualidade nutricional muito superior.

O dono do laticínio que adquirir um leite produzido dentro das recomendações preconizadas por um zootecnista, sentirá no bolso uma grande diferença positiva. Seu rendimento no processo de fabricação de derivados como o iogurte e os queijos será muito maior, sem contar que o número de bactérias nocivas ao ser humano será muito menor, assim ele não correrá o risco de ser "surpreendido" por alguma fiscalização sanitária. E o político?

Ele ganha alguma coisa? Ah! meu amigo, esse é que ganha... Tirar apenas um centavo de cada laticínio já rende por mês uns 40 mil reais, esse valor é menor do que os juros que os laticínios ganham quando seguram o dinheiro dos produtores por dois ou três meses, e eles também serão beneficiados. E ter um zootecnista trabalhando na sua equipe é sinônimo de eficiência e responsabilidade.A assistência técnica é o xis da questão.
Vai um leitinho aí?

Edgar Manso
Zootecnista

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