terça-feira, 29 de agosto de 2006

Farmácia está vendendo cachaça. E supermercado está vendendo osso de primeira. Você vai perder essa oferta?

"Assim como há uma rua Voluntários da Pátria,
podia haver uma outra que se chamasse,
inversamente, rua Traidores da Pátria."
Nelson Rodrigues

Já vi farmácia vendendo cachaça, sorvete, guloseimas e, claro, remédios. É óbvio que isso é estranho, realmente bizarro. Só no Brasil, convenhamos. Mas, uma coisa é farmácia adicionar, como dizem os marqueteiros, um plus, um mix à sua oferta de mercadorias. Através de uma lógica absurda, eles podem argumentar dizendo que, como em farmácia só se entra por necessidade, nada melhor do que atiçar o consumismo, exibindo algo mais que remédios. Afinal, farmácia é empresa e empresa precisa lucrar. Vá lá que seja...

Agora, supermercado vendendo osso a quilo, aí já acho que chegamos às raias do inaceitável. Você pode pensar assim: mas em supermerdado já se vende mesmo carne e muitas vezes carne com osso. Por que não somente osso?

Ora, entendo, por um motivo muito simples: tal fato demonstra que o poder aquisitivo do povo está caindo de uma maneira tal que, à falta de uma carninha de segunda ou mesmo de terceira para a sopa rala, já há gente comprando somente osso.

Agora, suponho também o seguinte: deve ser osso de primeira. Ossão dos bons, para dar um caldo cheio de sustança, como se dizia no sertão de antigamente, deixando o sujeito pronto para qualquer obra.

Aliás, sobre supermercado, acho tudo lamentável. Supermercado no Brasil não vende qualidade. Seus anúncios não valorizam produtos de primeira, sabor, valor nutritivo, alimento saudável. Supermercado no Brasil vende preço. É isso mesmo. Supermercado vende preço. Todo supermercado é sempre "o que vende mais barato", "tem as melhores promoções" e "sempre dá um jeitinho para o cliente sair satisfeito."

Como se vê, é uma forma perversa de vender. E perversa porque o sistema supermercado sabe do pobre poder aquisitivo do povo, sabe que quem vive com um ou dois salários mínimos não pode se dar ao luxo de comprar qualidade, precisa e quer mesmo é preço mais baixo, mesmo que esse preço mais baixo seja só coisa de publicidade. E sabe também que a maioria do povo brasileiro vive (?) é mesmo com um ou dois salários mínimos.

E assim, enche especialmente horários de TV, com "ofertas" de "preços baixos". E o consumidor, cabisbaixo, tem de se conformar com as tais promoções. Afinal, já pode até comprar osso de primeira para o sopão da família e, se no supermercado tiver sorteio de automóvel, quem sabe ele não ganha um carrinho básico, zerado, para a família?

Nota do Editor: O problema será depois manter o carrinho, entendeu? A Petrobrás já está anunciando que vem aumento de gasolina por aí.

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