Quando nos anos 60 Andy Wharol cunhou a expressão "nos próximos anos todos serão famosos por quinze minutos", queria dizer que, com o crescimento e a imposição da indústria cultural, e o afã das pessoas em se expor midiaticamente, haveria o somatório perfeito para a consolidação de um tempo em que os meios de comunicação de massa e a egolatria formariam um par perfeito, uma espécie de yin e yang unindo manipulação e vaidade.
Mais que isso, e aí entra o dado alienação da pessoa midiatizada, haveria o predomínio do meio sobre o indivíduo que se expõe, pensa que é o máximo mas, logo após a tiragem da revista, do jornal ou da exposição televisiva, a pessoa do momento some, desaparece como que por encanto, logo substituída por outra. Ou seja: mantém-se o perfil oco e instrumental da celebridade, mas jamais a sua personalidade.
Na verdade, todos os veículos de comunicação de massa trabalham com esse paradigma, há sempre uma circunstância temática: política, educação, esportes, economia, saúde, cidades. Nos jornais diários o tema sempre é o mesmo, alterando-se unicamente o conteúdo de cada página. De qualquer forma, não haveria como ser diferente, não apenas por questões técnicas, mas também por que é da natureza do jornalismo trabalhar com relatos de atualidade.
Nesse plano é socialmente aceitável o procedimento, uma vez que há a exigência social e mercadológica do consumo de informações do dia a dia. O público quer, o jornal está lá para atendê-lo. Desde que tudo feito com ética e senso de dever, tudo bem.
Há também, entretanto, no jornalismo diário, a presença de famosos por quinze minutos. É o bombeiro que salvou heroicamente a menininha do incêndio pavoroso, o jovem que conseguiu penetrar no cativeiro do empresário riquíssimo e o libertou minutos antes da chegada dos bandidos que haviam ido a um telefone público fazer nova chantagem à família. Utilizo-me desses exemplos em abstrato. Só para facilitar a compreensão.
Agora, quando quando se fala nas personagens midiáticas - alguém ainda se lembra de Monique Evans? - aquelas de fama repentina e retumbante baseada na vaidade, é preciso salientar que estas fazem parte de um caudal intenso, um moto contínuo de reposição de peças visuais. No caso das mulheres que posam para revistas masculinas, seu destino é, no máximo, aparecerem com suas fotos coladas em oficinas de conserto de carro. Para as revistas, após publicadas, as mulheres são material de arquivo. Arquivo morto. E logo vem uma nova carinha ocupar o espaço. E assim sucessivamente.
De fundo, o grande problema é esse: a indústria cultural transformou o corpo da mulher num bem, numa espécie de propriedade sui generis a ser vendida ao olhar. Esse processo tornou-se tão perverso e capilarizado, que o culto ao corpo não visa mais a saúde ou o bem estar consigo mesmo. O grande objetivo é ficar dentro dos padrões vigentes e socializados. Quem sabe, um dia ela não estará na capa glamourizada de uma revista?
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