sexta-feira, 2 de abril de 2021

 O Satânico Dr. No e a pandemia no RN

Por Emanoel Barreto

O governo do Estado cedeu à pressão de grandes empresários, religiosos e rede privada de ensino e abriu as porteiras para que as pessoas possam, mas de maneira educada, cortês e com toda a finesse necessária, digamos assim, conviver com o perigo do coronavírus. Afinal, o corona é muito respeitoso das regras sociais, sabia?

As bondosas prescrições estão todas no decreto 30.458/2012.

A etiqueta para tal convivência com a ameaça, of course, reúne os ademanes e bons modos necessários a desestimular a covid de intentar a invasão de corpos, destroçá-los física e psicologicamente para, afinal, para lhes tirar a vida.

Tais primores de educação e respeito ao outro incluem: distanciamento social, limitação de horário de funcionamento de shoppings e academias e permissão de aulas até o quinto ano do ensino fundamental.

Sinceramente: qualquer pessoa minimamente capacitada a entender os perigos dessa pandemia sabe que isso não vai funcionar. Lembre que após a deflagração do Pacto pela Vida as coisas melhoraram um pouco. Agora, quando temos um mínimo de alento os mesmos atores voltam à carga e conseguem realizar seus intentos como se fosse possível negociar com um vírus fatal e em fase de mutação. Só que ninguém combinou com o corona.

Hipocrisia e má-fé. As tais medidas de segurança não asseguram, garantem ou impedem contaminações. As aglomerações são acontecimentos sociais dinâmicos e por si só  implicam em deslocamentos dos seus participantes, ampliando-se os riscos especialmente em ambientes fechados. Falando claro: ou enfrentamos essa covid com firmeza e coragem ou a pandemia somente será superada após muito tempo e mais perdas de vidas.

Acrescentemos o seguinte: a sociedade, por estupidez ou ignorância, comparece a tais locais públicos e tem sua parcela de culpa – na verdade grande culpa – uma vez que cada um nesse grande todo social deveria ter equilíbrio e juízo analítico para pensar em seus atos e nas consequências que advirão de tais comportamentos coletivos.

As flexibilizações vêm sempre com o carimbo de uma equipe científica, que avaliza e dá o imprimatur aos decretos que a rigor têm o mesmo conteúdo da soturna saudação dos gladiadores quando entravam no Coliseu, ou seja: “Ave César, os que vão morrer te saúdam.”

Lamento muito tudo isso. E chego a me permitir uma sombria e lúgubre licença poética e supor que os tais membros da equipe científica são nada menos que os tristemente famosos personagens Dr. Mabuse, Dr. Caligari, Dr. Frankenstein, o Satânico Dr. No e, claro, o Dr. Jekyll, de O médico e o monstro.

O decreto é hipócrita e deplorável. E todo mundo sabe disso.

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