Sua casa é o seu país
Por Emanoel Barreto
Nestes tempos indignos e estando
obrigado a ficar recolhido à minha casa descobri que é possível viver um
luminoso processo de descoberta daquilo que seria apenas minha habitação, mas vira
ninho. Para quem se sabe como território de si mesmo a casa tem horizontes e
paisagens. Que desafiam o cotidiano repetitivo e reto e ele se transforma em
viagem, caminho e repouso.
Veja só como se faz isso: é possível
reler partes de um livro antigo e muito querido, ouvir um disco que estava ocioso
há anos ou simplesmente parar e escutar atentamente o silêncio.
Ouvindo o silêncio você percebe
que o som em calmaria não é completamente mudo, pelo menos nem sempre. À noite
especialmente o silenciar se alicia à penumbra e até mesmo à escuridão, e você ouve
e quase toca nos pequeninos barulhos que ousam sair de seu sono de simples
barulhos para bater na porta dos seus ouvidos.
É como se dissessem: “Dá licença de chegar?”
A casa inteira pulsa mansamente
em calma, paz, tranquilidade; num grande bocejo da paciência boa que é a paciência de quem não está à espera de
nada e portanto pode ter a serenidade preguiçosa do olhar semicerrado.
Quem sabe se ser não precisa se
desesperar por estar em casa. Se você prestar bem atenção até o cárcere é um
refúgio. Imagine a sua própria casa. Faça dela seu mar, seu porto, seu navio e
sua estrada, caminho, floresta e farol - de cima desse farol você pode olhar suas mais remotas lembranças,
tristezas já esquecidas, alegrias antigas que voltam para um abraço ou momentos bobos que de repente he aparecem e dizem: "E aí? Lembra daquele jogo de futebol lá no colégio?"
Não se desespere. Tudo se vai. O temo ruim vai passar. Assim,
passe um pano na poeira dos temores e deixe-os todos lá fora. Caminhe em você mesmo e
sinta que a impaciência pode custar caro. Ficar em casa é um abraço na vida.
Caminhe ao lado de sua
companheira e saiba que a sua casa é ao mesmo tempo escudo, certeza e paz. Fique
bem.
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