O protocolo do luto para a morte das crianças
Por Emanoel Barreto
Leio na Carta Capital o seguinte título a respeito do
retorno às aulas no estado do Espírito Santo: “Plano de volta às aulas no
Espírito Santo prevê ‘ritos de despedida’ em caso de mortes”.
Em documento publicado pelo governo Renato Casagrande fica notavelmente
clara a morbidez sinistra da decisão que contraria claramente o bom senso e o respeito
à vida humana. No documento, intitulado “Plano
de retorno às aulas
presenciais da rede pública estadual
de ensino do Espírito Santo” está dito, segundo a Carta Capital:
“Havendo
óbitos de alunos ou de profissionais da escola, e se for algo desejado pela
comunidade escolar, o grupo pode organizar ritos de despedida, homenagens,
memoriais, formas de expressão dos sentimentos acerca da situação e em relação
à pessoa que faleceu, e ainda atentar para a construção de uma rede socioafetiva
para os enlutados. Simbolizar a dor de alguma forma contribui para o processo
de luto, lembrando que cada um vive esse momento de uma maneira, como uma
experiencia pessoal e única e que, por isso, precisa ser respeitado.”
O que você acabou
de ler não é um trecho de roteiro de filme de terror, é parte de um documento
oficial, uma decisão de governo mas envolve uma brutalidade tal, se espoja num tamanho cinismo, numa
crueldade insana e entranhada na essência e na alma administrativa desse
governo que chega a me parecer coisa preparada por algum admirador da mente
doentia de Norman Bates, personagem principal do filme Psicose, de Alfred Hitchcock.
Mas, voltando ao documento
mencionado pela revista pesquisei-o na internet e não encontrei conforme o
registro jornalístico. Sou levado a supor que diante da repercussão obtida seus
feitores o modificaram, amenizando e eufemizando a perigosa situação admitida.
É terrível: como um
governo prepara o retorno de crianças à escola e antevê ao mesmo tempo a possível
morte de inocentes? Talvez fosse melhor ensinar a meninos e meninas a soturna
saudação dos gladiadores quando entravam na arena em Roma e diziam: “Ave Caesar
morituri te salutant”, ou Ave César, os que vão morrer te saúdam.”
A malignidade do
ato é claramente exposta na admissão da possibilidade de morte, alinhando a
escola a um campo de concentração onde a inocência brinca com a morte.
Tal falta de honradez
leva-me a questionar: até que ponto pôde a sociedade descer com essa pandemia. Desprezamos
todas ou quase todas as formas de respeito à saúde da pessoa e do outro que convivemos com a insensata farra da frouxidão e do insulto à vida do próximo como
forma de deleite. Isso facilitou a molícia dos governantes.
A sociedade
brasileira está caindo muito baixo; as pessoas, enlouquecidas da loucura
indecorosa de alegria a qualquer custo lotam praias e bares. Não são ingênuos;
não, eles sabem o que fazem.
Para encerrar: Natal
também está prestes a dar largada à febre das escolas reabertas, aqui na rede
privada. Mas aqui o prefeito Álvaro Dias já lavou as mãos: as crianças só voltam às
aulas após permissão dos pais ou responsáveis em documento assinado. Just in case.
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