Nosso Dom Sebastião pode ser Jair Bolsonaro
A invasão ontem do plenário da
Câmara dos Deputados por um grupo movido por alguma espécie de histeria
política sugere algo preocupante: a existência de setores da sociedade que
acreditam sinceramente que somente com a “presença de um general” na presidência
da República teremos o país no rumo certo.
Estimada como composta por
cinquenta pessoas, a turba seria algo como uma pequeníssima ponta de iceberg da
insatisfação manifesta pelos que, dotados de pensamento político tosco,
desejariam o retorno do país à ditadura.
Creio que tal fato deva ser
levado a sério. Temos no congresso espécimes políticos como os Bolsonaro, além
da bancada protestante, que defendem as piores ideias, as mais obscuras
propostas políticas. Esses tipos, não se duvide, apoiariam qualquer intentona antidemocrática.
Para quem pensa numa solução
ditatorial a conjuntura parece justificar tal “solução”.
Vejamos: a chamada classe
política está em frangalhos; temos um judiciário lento, com processos caros e salários
altíssimos; o alto empresariado afundado até o pescoço na fossa que ele mesmo
cavou e funcionários públicos agem como facínoras.
Somado tudo isso fica a
indagação: em quem acreditar?
Não podemos esquecer outro dado: a
onda de criminalidade que varre o país, aterrorizando uma sociedade indefesa.
Somemos tal quadro a uma polícia ausente ou pelo menos tardia e adicionamos à
receita a pusilanimidade do Estado no enfrentamento aos criminosos e pronto:
temos o prato feito para que nos surja a turba querendo mudanças na marra. E que
mudanças!
Detalhe importante: a malta que
invadiu o plenário da Câmara é de atitude bem diversa daqueles que,
impulsionados pelos patinhos da Fiesp pediam o golpe que depôs Dilma.
Ali se viam famílias
arrumadíssimas, carrões possantes, casais com filhos em carrinhos de bebê e a
pretinha empurrando os lindos rebentos. Havia era uma espécie de convescote que
validava o golpe que viria. Uma brincadeira de madames posando, de uma hora
para outra, de dona de casa engajada e consciente da dura vida do povo. Só
isso.
Ontem não: eram pessoas dispostas
a se arriscar. Gente de luta, tropa de frente, disposta a peitar políticos
poderosos, milionários detentores de mandatos, graúdos que desafiam normas
morais, justiça, o que der e vier. Foram, meteram o pé e tomaram o plenário.
Percebo naquela mobilização algo
da força essencial que, por exemplo, mobilizou os estudantes na ocupação de
escolas e universidades. São essências diferentes, mas são uma força, uma
convicção.
Tenho certeza de que podem, sem
dúvida, gerar um movimento forte. E muito perigoso.
Na contraface temos o PT. Aquele
partido – pelo menos na quadra histórica que vivemos – falhou ao assumir o
comando pois não representou de forma convincente os trabalhadores. Isso
tirou à classe trabalhadora esperanças de que aquele partido pudesse efetivamente e
literalmente vocalizar o seu discurso.
O PT aliou-se ao que há de pior
na política brasileira, aderiu às suas práticas e esvaziou discurso, imagem e
proximidade com as classes populares.
Tudo isso tem consequências lamentáveis
– e poderosas – para minar a democracia, permitindo a setores idelogicamente rudes
a propagação de suas ideias aparentemente salvacionistas.
E o que é pior: pode ser que o nosso
Dom Sebastião, o salvador esperado, seja Jair Bolsonaro, brotado dessa Alcácer
Quibir em que o país foi transformado.
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ZOORÓSCOPO
Mosca – os
nascidos em tal signo têm à sua frente um futuro glorioso. Devem casar-se com
nascidos em aedes aegypti, formando um par perfeito. No Brasil os mosquianos dão-se
muito bem. Especialmente agora, com a iminente aprovação da PEC do fim do
mundo, você, mosquiano amigo, terá amplo terreno para agir. O monturo a ser
criado é todo seu.
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