quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Crença na brutalidade



Nosso Dom Sebastião pode ser Jair Bolsonaro

A invasão ontem do plenário da Câmara dos Deputados por um grupo movido por alguma espécie de histeria política sugere algo preocupante: a existência de setores da sociedade que acreditam sinceramente que somente com a “presença de um general” na presidência da República teremos o país no rumo  certo.


Estimada como composta por cinquenta pessoas, a turba seria algo como uma pequeníssima ponta de iceberg da insatisfação manifesta pelos que, dotados de pensamento político tosco, desejariam o retorno do país à ditadura. 

Creio que tal fato deva ser levado a sério. Temos no congresso espécimes políticos como os Bolsonaro, além da bancada protestante, que defendem as piores ideias, as mais obscuras propostas políticas. Esses tipos, não se duvide, apoiariam qualquer intentona antidemocrática. 

Para quem pensa numa solução ditatorial a conjuntura parece justificar tal “solução”. 

Vejamos: a chamada classe política está em frangalhos; temos um judiciário lento, com processos caros e salários altíssimos; o alto empresariado afundado até o pescoço na fossa que ele mesmo cavou e funcionários públicos agem como facínoras. 

Somado tudo isso fica a indagação: em quem acreditar?

Não podemos esquecer outro dado: a onda de criminalidade que varre o país, aterrorizando uma sociedade indefesa. Somemos tal quadro a uma polícia ausente ou pelo menos tardia e adicionamos à receita a pusilanimidade do Estado no enfrentamento aos criminosos e pronto: temos o prato feito para que nos surja a turba querendo mudanças na marra. E que mudanças!

Detalhe importante: a malta que invadiu o plenário da Câmara é de atitude bem diversa daqueles que, impulsionados pelos patinhos da Fiesp pediam o golpe que depôs Dilma. 

Ali se viam famílias arrumadíssimas, carrões possantes, casais com filhos em carrinhos de bebê e a pretinha empurrando os lindos rebentos. Havia era uma espécie de convescote que validava o golpe que viria. Uma brincadeira de madames posando, de uma hora para outra, de dona de casa engajada e consciente da dura vida do povo. Só isso.  

Ontem não: eram pessoas dispostas a se arriscar. Gente de luta, tropa de frente, disposta a peitar políticos poderosos, milionários detentores de mandatos, graúdos que desafiam normas morais, justiça, o que der e vier. Foram, meteram o pé e tomaram o plenário. 

Percebo naquela mobilização algo da força essencial que, por exemplo, mobilizou os estudantes na ocupação de escolas e universidades. São essências diferentes, mas são uma força, uma convicção.
Tenho certeza de que podem, sem dúvida, gerar um movimento forte. E muito perigoso. 

Na contraface temos o PT. Aquele partido – pelo menos na quadra histórica que vivemos – falhou ao assumir o comando pois não representou de forma convincente os trabalhadores. Isso tirou à classe trabalhadora esperanças de que aquele partido pudesse efetivamente e literalmente vocalizar o seu discurso

O PT aliou-se ao que há de pior na política brasileira, aderiu às suas práticas e esvaziou discurso, imagem e proximidade com as classes populares. 

Tudo isso tem consequências lamentáveis – e poderosas – para minar a democracia, permitindo a setores idelogicamente rudes a propagação de suas ideias aparentemente salvacionistas. 

E o que é pior: pode ser que o nosso Dom Sebastião, o salvador esperado, seja Jair Bolsonaro, brotado dessa Alcácer Quibir em que o país foi transformado.
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ZOORÓSCOPO
Mosca – os nascidos em tal signo têm à sua frente um futuro glorioso. Devem casar-se com nascidos em aedes aegypti, formando um par perfeito. No Brasil os mosquianos dão-se muito bem. Especialmente agora, com a iminente aprovação da PEC do fim do mundo, você, mosquiano amigo, terá amplo terreno para agir. O monturo a ser criado é todo seu.

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