Mandingas
e adivinhações, que lá vem a Colômbia
Como disse ontem, é grande a
minha preocupação com o jogo do Brasil contra a Colômbia. Sendo assim consultei
um áugure, adivinhão em quem muito confio, a fim de antecipadamente saber se, a
exemplo dos novos Baianos, teremos de dizer “acabou, chorare” ou se,
inversamente, brindaremos vitória reluzente e cristaleira após encerrado o
tempo de jogo seja qual for a duração da partida.
Esclareço ao leitor que assim
procedo porque sou homem de poucas luzes, apenas um tipógrafo que trabalha na
redação deste coranto com material gutenberguiano. Destarte, considero aceitáveis
as minhas providências junto ao vidente, que, tão logo foi por mim procurado, atirou-se
prontamente a estudos que lhe permitissem fazer a profecia sob encomenda.
Eis o que foi feito: na necromancia, que é o
chamamento dos manes ou almas dos antepassados, nada obteve. Dedicou-se então à geomancia, que trata de sinais vindos da terra; também lhe foi negado
aceso a prognósticos, apesar de todos as diligências. Da hidromancia, que
volta-se para analisar indícios advindos da água, também nada veio.
Em seguida, enquanto eu me
mantinha em fervorosa atitude, voltou-se para a aeromancia e a piromancia. Debalde:
o ar e o fogo nada informaram. A quiromancia exigiu de mim que ele examinasse
as linhas de minhas mãos, mas estas, acostumadas tão somente a manipular letras
e tintas, não tinham dotes para prenúncios.
A verificação das linhas da
fronte ou metoposcopia também foi falha. A cristalomancia, o uso de cristais,
nada acrescentou. Continuei concentrado enquanto ele trabalhava, agora com a
cleromancia, utilização de dados: tempo perdido. Eu começava a suar quando ele
garantiu: com a onicomancia teríamos afinal desvendado nosso futuro imediato, o
resultado da partida.
Quando intimamente eu já
gritava gol!, ele, olhando-me desapontado, admitiu: também não obtivera
sucesso. Ah!, sim, onicomancia se faz com a utilização de azeite e fuligem. Esclarecida
esta justificada interrogação do leitor, que talvez não seja versado em tais
artes, detalho outros esforços: o nigromante, firme e decidido, dedicou-se à
coscinomancia, que se faz com o uso de uma peneira à qual se gira. Resultado:
nada.
Vieram depois a botanomancia,
com ervas, e a ictiomancia, com os peixes, claro. Em seguida foi feita catoptromancia,
destreza oficiada com espelhos, suspostamente capazes de refletir o futuro. Total
e incompleto sucesso.
Para finalizar, e ante meus
rogos e apelos, dedicou-se datilomancia, que a previsão pelo estudo dos dedos. Infelicidade.
Nada foi obtido. Insisti, e ele praticou a capnomancia como último recurso. Tal
sortilégio diz respeito à utilização de fumaça. Creio que você já sabe o
resultado. Pufffffff.
Então, diante de tudo isso, tenho
somente a dizer: valerão, na partida, o senso tático e a arte dos pés e
dribles; o arrojo e a decisão de fazer; a firmeza e a resiliência dos fortes, a
loucura criativa e, não tenha dúvida, algum senso poético porque futebol tem
muito dessa arte, esteja certo.
Para encerrar: enquanto redijo
este coranto vou, por precaução, nunca se sabe, acender uma vela; não, dez
velas. E ver se na internet tem algum site de rezes fortes.
Já me benzi três vezes e
esquivei-me de passar embaixo de escadas. Fugi de um gato preto e mudei de
calçada quando vi um sujeito que me parecia ser pressago e de atitudes aziagas.
Agora, como derradeiro recurso, vou fazer o seguinte: vou vestir, vestir não,
envergar – envergar é coisa mais poderosa, não é mesmo? – uma camisa verde e amarela
e me encolher em frente à TV. Mas, se nada
disso der certo, espero que Felipão acerte a mão no time. Isola mangalô três vezes.
Imagem: http://www.jogospuzzle.com/puzzles-de-bruxas-e-magos.htm
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