sexta-feira, 4 de julho de 2014

O Brasil vai jogar: faça uma reza forte




Mandingas e adivinhações, que lá vem a Colômbia


Como disse ontem, é grande a minha preocupação com o jogo do Brasil contra a Colômbia. Sendo assim consultei um áugure, adivinhão em quem muito confio, a fim de antecipadamente saber se, a exemplo dos novos Baianos, teremos de dizer “acabou, chorare” ou se, inversamente, brindaremos vitória reluzente e cristaleira após encerrado o tempo de jogo seja qual for a duração da partida.

Esclareço ao leitor que assim procedo porque sou homem de poucas luzes, apenas um tipógrafo que trabalha na redação deste coranto com material gutenberguiano. Destarte, considero aceitáveis as minhas providências junto ao vidente, que, tão logo foi por mim procurado, atirou-se prontamente a estudos que lhe permitissem fazer a profecia sob encomenda.

Eis o que foi feito: na necromancia, que é o chamamento dos manes ou almas dos antepassados, nada obteve. Dedicou-se  então à geomancia, que trata de sinais vindos da terra; também lhe foi negado aceso a prognósticos, apesar de todos as diligências. Da hidromancia, que volta-se para analisar indícios advindos da água, também nada veio. 

Em seguida, enquanto eu me mantinha em fervorosa atitude, voltou-se para a aeromancia e a piromancia. Debalde: o ar e o fogo nada informaram. A quiromancia exigiu de mim que ele examinasse as linhas de minhas mãos, mas estas, acostumadas tão somente a manipular letras e tintas, não tinham dotes para prenúncios. 

A verificação das linhas da fronte ou metoposcopia também foi falha. A cristalomancia, o uso de cristais, nada acrescentou. Continuei concentrado enquanto ele trabalhava, agora com a cleromancia, utilização de dados: tempo perdido. Eu começava a suar quando ele garantiu: com a onicomancia teríamos afinal desvendado nosso futuro imediato, o resultado da partida. 

Quando intimamente eu já gritava gol!, ele, olhando-me desapontado, admitiu: também não obtivera sucesso. Ah!, sim, onicomancia se faz com a utilização de azeite e fuligem. Esclarecida esta justificada interrogação do leitor, que talvez não seja versado em tais artes, detalho outros esforços: o nigromante, firme e decidido, dedicou-se à coscinomancia, que se faz com o uso de uma peneira à qual se gira. Resultado: nada.
Vieram depois a botanomancia, com ervas, e a ictiomancia, com os peixes, claro. Em seguida foi feita catoptromancia, destreza oficiada com espelhos, suspostamente capazes de refletir o futuro. Total e incompleto sucesso. 

Para finalizar, e ante meus rogos e apelos, dedicou-se datilomancia, que a previsão pelo estudo dos dedos. Infelicidade. Nada foi obtido. Insisti, e ele praticou a capnomancia como último recurso. Tal sortilégio diz respeito à utilização de fumaça. Creio que você já sabe o resultado. Pufffffff.

Então, diante de tudo isso, tenho somente a dizer: valerão, na partida, o senso tático e a arte dos pés e dribles; o arrojo e a decisão de fazer; a firmeza e a resiliência dos fortes, a loucura criativa e, não tenha dúvida, algum senso poético porque futebol tem muito dessa arte, esteja certo.
Para encerrar: enquanto redijo este coranto vou, por precaução, nunca se sabe, acender uma vela; não, dez velas. E ver se na internet tem algum site de rezes fortes.

Já me benzi três vezes e esquivei-me de passar embaixo de escadas. Fugi de um gato preto e mudei de calçada quando vi um sujeito que me parecia ser pressago e de atitudes aziagas. Agora, como derradeiro recurso, vou fazer o seguinte: vou vestir, vestir não, envergar – envergar é coisa mais poderosa, não é mesmo? – uma camisa verde e amarela e me encolher em frente à TV.  Mas, se nada disso der certo, espero que Felipão acerte a mão no time. Isola mangalô três vezes.
Imagem:  http://www.jogospuzzle.com/puzzles-de-bruxas-e-magos.htm


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