sábado, 3 de maio de 2014

Adultério na alcova política


Dormir com a mulher de César

Nos áureos tempos gregos os homens de poder compareciam à praça, à ágora, para debater os destinos da cidade. Eram a elite pensante e o poder econômico e político conjugados em forma complexa. Em presença pública travavam os debates, erguiam a retórica, consumavam seus pontos de vista a partir de um pensamento essencial: a virtude guiava o discurso, voltado necessariamente para o bem-comum. 

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A virtude, entende? Era ao mesmo princípio e fim da ação política, uma vez que do pronunciamento virtuoso brotavam ações e gestos positivos que, por sua vez, admitindo-se a virtude como essência daquela situação, gerariam uma sociedade melhor. Não sou tolo o suficiente para admitir que o mundo grego fosse o ideal –  eles eram uma sociedade escravocrata e discriminatória da mulher e dos estrangeiros –  mas, a partir da tese que exponho, quero dizer apenas que o pronunciamento público buscava a elevação do homem virtuoso, mesmo que isso fosse inatingível pela condição humana.


Então, saindo dos nevoentos tempos da ágora, parece-me que não há homens virtuosos na política, pelo menos não no sentido que deu abertura a este texto. O que prevalece é o sentido de busca de poder pelo grupo que ocasionalmente tenha se reunido para fazer essa investida: chegar ao poder em suas diversas manifestações e dali atender aos interesses grupais. 


Na eleição seguinte o grupo pode estar desfeito e seus membros integrados a outras facções, atacando-se e se interdenunciando. 


O pronunciamento político distanciou-se do sentido ético para aderir ao que prega e determina o marketing eleitoral; não há sentido de coerência entre o que diz o político e o que pensa de verdade. Vale o sentido de oportunidade, a “chance”, a esperteza, o lucro, a política também como negócio. 


É o que vemos nas campanha eleitorais. Os candidatos, em debates na TV, acusando-se mutuamente, cada um querendo se apresentar ao eleitorado como aquele homem virtuoso, que habitava os longínquos tempos da Grécia antiga. Afinal, como diziam os romanos, naquele tempo não seria suficiente a mulher de Cesar ser virtuosa: era preciso ter fama de ser virtuosa. 


Os políticos seguem esse chavão. Os marqueteiros, profissionais pagos a peso de ouro, se encarregam de vesti-los com a púrpura da castidade eleitoral, e então todos is candidatos se apresentam como agindo em conformidade com o Bem, voltados para a excelência moral, donatários de conduta irretocável. Os candidatos têm a pureza da mulher de César.


Quando ao eleitor, mesmo após viver anos e anos desse espetáculo sórdido, simulacro e encenação, torna às urnas e retorna ao voto; encabrestado pela alienação do que seja política e pela opressão do voto obrigatório. 


O discurso dos candidatos é pregação de uma verdade postiça, mutável aos desejos e segundo a conveniência do momento. O político deseja apenas ganhar, todos sabemos. As promessas, eles sabem, são irrealizáveis, tal sua pirotecnia social e parcos recursos públicos. Mas o político insiste que sim, que fará acontecer e com isso tem o óbolo do voto, depositado nas entranhas eletrônicas da urna.


E, quem sabe, na emoção do discurso de vitória, tenha a petulância de dizer: "Dormi com a mulher de César."

E como ela é dama virtuosa a ele transmitiu, na troca de fluidos desse adultério cívico, todas as suas qualidades morais, éticas e desejáveis. 

Foi por isso que ele venceu a disputa, ganhou a eleição, tornou-se o campeão do povo: pudera, foi resultado da fama de ser virtuoso...

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