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O senhor dos ventos
Emanoel Barreto
Tenho
um amigo que, diz-me, é senhor dos ventos; ou melhor amigo deles. Com
eles dialoga, discursa, debate, briga até. Para em seguida fazer as
pazes e viajar. Sim, ele viaja, garantiu-me. Deitado nos ventos, sem
qualquer perigo de cair. Mesmo nas alturas mais deslumbrantes vai
flutuando em paz.
A
tal dom alia outra maravilha: torna-se, como o vento, fluido e
invisível. Assim, quando aragem mansa, invade ambientes ocultos, é
voyeur de casais intensos, mulheres em pelo, cenas de famílias em
aniversário de 15 anos, solidões de desesperados, delírios de loucos e
de mandatários em sede de poder.
Sim, ele ouve tudo, vê tudo.
Dia
desses saí com ele. "Posso?", perguntei. "Posso" no sentido inglês de
"May". E ele respondeu: "Yes, quer dizer sim". E convocando um vento
forte, mas não um simum, um siroco, um mistral, tornado, ciclone, tufão
ou furacão, fomos calmamente, sem temor de provocar os desmandos que
tais ventos determinam.
Evocou
vento poderoso o suficiente para nos elevar e voar. Invisíveis, e
impregnados ao ar em movimento, subimos. Fomos tão algo que a Terra
ficou lá embaixo, azul e linda, como dissera Gagarin.
Depois,
descemos. O que vi, nessa passagem, foram as plagas terríveis e mais
belas da condição humana. Praias sensacionais, vigorosas paisagens,
coisas das mais belas.
Passamos
também pela miséria de Benares, os esconsos de Tegucigalpa, a miséria
terrível dos subúrbios de Bogotá, a perversa vida nas favelas do Rio, os
soluços ignaros dos moradores dos esgotos de Bali, ruelas de toda a
Ásia, becos de toda a Europa, etc..., etc..., etc...
Vi-me
invadido por uma sensação que oscilava entre alegre e pesarosa. O ser
humano em seu dilema. O homem como situação coadjuvante do seu próprio
drama.
Voltamos tarde da noite.
Agradeci.
Quando já saía voltei-me para perguntar quando iríamos viajar de novo.
Ele tinha desaparecido.
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