quarta-feira, 31 de outubro de 2012



A história do louco que tece teias de aranha

Fui hoje procurado por um louco que me propôs sociedade em seus planos delirantes: fiação e tecelagem de teias de aranha. Respondi que sou apenas um tipógrafo, que nada entendo de tais e delicadas cousas: minhas mãos foram feitas para as tintas e o prelo, o papel e os tipos. Melhor não, melhor não. 
http://b-sonambulando.blogspot.com.br/2010/03/voce-sabia-que-o-material-mais.html

Ele insistiu e convidou-me a ir até à sua ilha, onde me mostraria a arte de fiar teias de aranha. Imaginei-a distante e situada em mares nevoentos, povoada por animais míticos e de há muito desaparecidos. Mas ele disse-me que não, que sua ilha estava perto. Onde?, quis eu saber. E ele apontou-me, pela janela, onde estava a ilha: estava ali, flutuando no meio da rua, em frente à minha tipografia.

Maravilhado com tal encanto, acompanhei-o a lá e, apoiando o pé na praia linda que cercava a ilha, senti seu suave balouço, como se a rua fosse um mar calmo e de águas leves. E a ilha partiu e com ela fomos, a ilha passeando pelas ruas e as pessoas gritando: “Vejam que ilha mais linda!”

Então, perguntei onde estaria a fiação de teias e ele me apontou uma caverna em meio a vegetação densa. Lá chegando vi seres leves que teciam. Ele pegou a ponta de um fio e, para minha surpresa, comecei também a tecer, mesmo sem ter sido nunca tecelão. 

Ficamos horas naquele trabalho, até que a ilha aportou novamente à minha porta. Ele, então, perguntou se eu queria continuar a ser tecelão de teias de aranha. E eu, olhando as minhas mão enegrecidas pelas tintas, recusei: disse que não tinha direito de trabalhar com aqueles sonhos, mas viver a pedra das palavras. 

Ele agradeceu e disse: “Se algum dia decidir-se em contrário escreva a história de mim e desta ilha e eu saberei que você começou a ser tecelão.” Em seguida partiu. 

Quanto a mim, acho que estou pensando em escrever a história que me foi pedida.

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